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sábado, 12 de março de 2022

ESCRITORES CONTEMPORÂNEOS. Vem comigo. Acompanhem o meu processo de escrita do romance " O ERMITÃO.

Vem  aí   O ERMITÃO.


Um romance repleto de ação, suspense e aventura.

Aguardem.

 " O ERMITÃO" 

 

                                                    Dedicatória: 

                   Dedico este livro ao meu avô Vitalino Gomes da Silva, que em vida soube apreciar a arte da literatura e através de sua contação de histórias fazia das nossas noites, um grande momento de magia como se estivéssemos viajando em um grande trem através das belas paisagens do realismo fantástico. 

Saudades da minha infância e da sua existência, meu eterno avô. 

 

                                                    Apresentação. 

 

              Em uma cidadezinha pacata que fica situada entre montanhas de uma país conhecido, um jovem muito querido por todo o povo do vilarejo, desaparece misteriosamente no dia que seria o mais feliz de sua vida, dia do seu casamento. A partir deste dia, a cidade não é mais a mesma, alguns fenômenos estranhos passam a acontecer causando muita especulação, muito estranhamento e muito suspense. Você está convocado para desvendar junto comigo, o enigma de " O ERMITÃO" 

Vem comigo!  

 

                                                               PRÓLOGO 

           

                                 Era uma vez, uma cidadezinha misteriosa.  

 

              Situada em uma região montanhosa em meio a um grande vale e cercada da mata atlântica também de algumas fazendas de café e também de criação de gado, eis que está Vulcânia , hoje uma área de preservação ambiental e também um patrimônio histórico e cultural da humanidade. Sua origem vem dos tempos da colonização e foi formada pelos bandeirantes, pelos tropeiros e aventureiros que alí se instalavam para o descanso em uma antiga estrebaria, hoje uma grande pousada, a Casa do Sol Nascente. Entre os diversos mitos e lendas que rondavam a imaginação daqueles moradores simples, um era a presença constante na praça da cidade do” Pai da mata”, “Velho do sacolão” Profeta lá do fundão” estes eram os nomes que eram dados para um antigo morador das grutas do outro lado das montanhas, lugar que ninguém ousava visitar pois diziam que lá era mal-assombrado. – Quem ia jamais voltava. Era jogado na cratera de um vulcão fumegante, mais quente o fogo dos infernos. Derretiam em minutos e sua alma seria do cramunhão. 

 

Mas o velho, de barbas longas e grisalhas, cabelos compridos todos embaraçados, sempre com um velho cajado,de vez em  quando aparecia com sua velha e surrada túnica franciscana com cordão esfarrapado na cintura e pés calejados  le achatados, sem sandálias de couro surradas, mas sempre descaço.

O  povo ia escutar suas previsões do tempo, suas profecias, seus conselhos. 

Na verdade, o pobre homem era um ermitão que morava sim, em uma das cavernas das redondezas e só de vez em quando, para conseguir comida vinha peregrinar na cidade. Com ele trazia uma velha sacola para juntar o que ganhava: feijão de vara, algum arroz, farinha, banha de porco, óleo de algodão, macarrão e as vezes ganhava pedaços de sabão de soda caseiro para lavar suas roupas em algum riacho e talvez suas velhas panelas e utensilios na caverna onde vivia. 

Esta velha sacola que lhe deu o apelido de Velho do sacolão. 

O bom velho era temido por falar de um Deus vingativo que viria queimar todos  os  pecadores vivos e em praça pública em uma grande fogueira. 

Somente seria arrebatado para o Reino dos céus, os puros, sem pecado e isto era raro. 

 

- Poucos, muito poucos, talvez, ninguém – nem eu –será digno da misericórdia divina por conta dos nossos pecados nesta verdadeira Sodoma e gomorra em que vivemos! - SHEMAH ISRAEL, Adonai Elohenu! - Arrependei-vos antes que seja tarde demais!

- OH Jeovah- OH Eloim! -  Perdoa estes pecadores e não deixe que caiam de novo em tentação. 

- A ira divina virá como um raio, após um trovão e o velho vulcão acordará furioso - a cidade curvará a teus pés.!!! 

_ Aí será a hora dos choros e do ranger de dentes, haverá gritos por misericórdia – mas será tarde. A ira de Deus cairá sobre Vulcânia. – Outros vulcões que há séculos foram adormecidos, obedecerão ao chamados divino e vão torrar e transformar em cinzas, os ímpios, as mulheres vaidosas e infiéis, os homens exploradores de outros homens que dão seu sangue no trabalho e continuam passando fome. Estes também queimarão no fogo vulcânico divino pela submissão, pela não reação.

- Ai de quem não seguir o que manda o grande guia de vocês, o profeta aqui - eu, um mensageiro do pai celestial. E se alguém aqui vier a zombar de mim, eu rezo para ele, seja quem for. Eu rezo. O último que rezei, o filho do dono da máquina de café, tá de cama até hoje. Se aleijou e não mais pode andar. -Não brinquem com minhas profecias.....eu sei rezar! 

 E na praça, nas esquinas, em qualquer lugar que o velho parava, juntava gente para falar de suas visões e encontros com  Deus que lhe passava mensagens para aquele povo pecador, impuro, hipócrita da cidade. 

O padre ficava incomodado com aqueles fieis que quase não iam a missa, achava o seu sermão cansativo, mas para escutar o velho barbudo, passavam horas. 

 

 É neste cenário paradisíaco enigmático que era dominado por  duas famílias muito importantes  os Belafontes e os Vaccarinis. A família Belafontes tinham o controle do comércio, da  produção e comércio de café.

Já os Vaccarinis controlavam a produção de gado de corte e também da  produção de leite, de queijo, enfim a do laticínio. 

A população, desde os pequenos comerciantes , os botequeirose  até os boias-frias , trabalhadores volantes , dependiam da riqueza destas famílias que estavam sempre envolvidas com a política e com a Igreja local.

 Estas famílias sempre viveram em harmonia, assim como o povo em sua maioria ,cristãos católicos tementes à Deus e tinham como líder religioso naquela época, o rígido Padre Afonso que além de pároco, era o conselheiro oficial  de todo o povoado. 

A maior diversão das famílias , principalmente dos mais jovens estava nas  festas religiosas que aconteciam com frequência na Paróquia Nossa Senhora da Chama  Eterna, uma belíssima e imponente igreja toda construída no estilo barroco , herança dos áureos tempos da extração de esmeraldas e diamantes, época da Colônia e do Império.  

 A praça da Matriz com seu chafariz e um grande coreto onde aconteciam apresentações de cantorias, teatros e também discursos políticos. Era e ainda é o ponto de encontro e entretenimento dos cidadão vulcanienses e onde se falava de tudo e de todos e também onde os jovens marcavam encontros  amorosos ou flertavam com com suas pretendentes. 

Mas não foi nestas festas que nosso herói Ângelo Belafontes conheceu Beatriz da Silva, a nossa heroína Bia que me faz contar a vocês toda saga, toda a história. 

            Vamos lá? 

 

Bem, Ângelo era daqueles jovens que cresceu no povoado , participando de tudo, tinha amizade com todos, não discriminava ninguém pela condição social, por idade e muito menos pela cor da pele. 

O rapaz era bem popular, embora tenha nascido em berço de ouro, na tradicional família Bllafontes,tinha sempre um sorriso, uma brincadeira, um carinho para com todos e todas, seja criança, adulto, idoso, idosa, rico ou pobre, branco, negro, caboclo, oriental, enfim, a simpatia em forma de pessoa. Até os 16 anos viveu com a família na cidade de onde nunca saía nem a passeio, porém com o término do colegial, o ensino médio atual, foi necessário ir para a capital para estudar Medicina, um sonho que era muito forte na mãe dele e nem tanto nele que queria mesmo era ser Engenheiro Agrônomo.

Embora os pais tivessem dinheiro para pagar qualquer Universidade do Brasil ou do mundo, Ângelo impôs uma condição: tinha que passar em vestibular de uma universidade pública e assim, com muito estudo em cursinhos, morando em repúblicas e moradias de estudantes na cidade grande, passou no vestibular da Universidade Federal e sempre que tinha férias visitava os pais e os amigos de Vulcânia onde passava todo tempo envolvido com as atividades da família e das diversões com amigos.  O seu melhor amigo sempre era  Augusto, rapaz de mais ou menos a mesma idade , hedeiro da família Vaccarini que também estudava na Capital, onde cursava Engenharia civil. Consta que os dois dividiam um apartamento na Capital e seus pais bancavam as despesas da faculdade e também as de cunho pessoal. Em uma  uma destas férias  de meio do ano, época de colheita de café,  Ângelo e Augusto  vieram passar as férias na cidade onde aproveitavam para dar uma força nas fazendas de seus pais. Ângelo ia às sextas-feiras ajudar a fazer o pagamento dos boias-frias que colhiam café em uma das maiores fazendas de seus pais, a imponente Fazenda Àgua Grande.

Já Augusto gostava de ficar na fazenda de gado durante o dia e na maioria das noites vinha para a casa de Ângelo de onde saiam a noite para as farras, bares ,jogos de  bilhar e també frequentavam a Mansão das pedras, casa de baixo meretrício, pertencente à famosa cafetina Madame Sophie, a francesa. A casa era também ponto de encontro de políticos e fazendeiros da região e era onde discutiam a situação política da Ditadura militar vigebnte no país e também fechavam negócios de compra e venda de produtos agrícolas e da pecuária que produziam em suas terrras.


A vida de solteiro era muito boa para aqueles dois boêmios que nem pensavam em casamento.

Porém o destino estava preparando uma surpresa para Ângelo. 

 

   Em uma tarde de sexta-feira, Ângelo foi fazer o pagamento dos boias-frias, assim eram chamados os trabalhadores volantes que moravam na periferia das cidadezinhas que iam de caminhão pau-de-arara toda madrugada para o árduo trabalhos nas fazendas e sítios  da região.  Naqueles verdes campos entre vales e montanhas de origem vulcânicas , estava Ângelo chamando por nome e em ordem alfabética, os trabalhadores homens, mulheres e até crianças que  faltavam à escola muitas vezes para ajudar os pais na luta pela sobrevivência, a boia, o 

 " dicumê",  pão  de cada dia.  E foi quando chamou em voz alta:- BEATRIZ DA  SILVA ! 

 

     Eis que surge em sua frente uma jovem de olhos bem expressivos da cor de mel, de lábios definidos, pele morena um tanto empoeirada pela lida do abanar café o dia todo. Por sobre os cabelos cacheados e negros como a noite, um surrado chapéu. Seu corpo era de bailarina, cintura fina e pelas vestes longas com uma blusa amarrada à cintura, era possível imaginar o belo biotipo da mulher genuinamente brasileira. Os olhos azuis  de Ângelo cruzaram com os de Bia e ali aconteceu um fenômeno; a reação química que uns chamam de paixão, outros de amor à primeira vista. O rapaz ficou desnorteado, a moça também, a jovem chegou a tremer ao assinar o recibo após receber o salário da semana, o qual nem conferiu. Tratou logo de ir saindo em direção do caminhão pau-de arara coberto de lona, mas sem antes dar uma discreta olhada para trás para ter a certeza que o rapaz seguia seus passos com olhar pasmo e boca semiaberta.  

       Não demorou para terminar de pagar a todos os trabalhadores e assim viu o caminhão se preparando para o retorno à cidade. Um dos peões que administrava aquela fazenda percebeu o embaraço do patrãozinho, mas ficou calado e disfarçou -  afinal não tinha tanta intimidade com o rapaz que só aparecia uma vez ou outra quando estava ocioso de férias. 

       Ângelo, após terminaro pagamento dos que faltavam,juntou seus papeis em uma pasta ,disse um até mais ao capataz com um aceno, deu partida no seu JEEPde capotas pretas e vazou pela estrada de terra, cheia de curvas na tentativa de acompanhar o pau -de- arara e descobrir onde aquela linda camponesa morava para que se aproximasse dela e a conquistasse com uma bela declaração de amor.

 

 

                       O amor deixa marcas, sequelas, inquietações. 

 

 

            Ângelo acelerou seu Jeep e conseguiu alcançar o pau-de-arara quando este acabava de deixar alguns trabalhadores em uma casa em uma rua de chão batido na periferia da cidade, porém já havia parado antes em outras localidades, mas  mesmo assim continuou a seguir discretamente o caminhão até que este desembarcasse o último trabalhador.  Em um ponto de parada viu a moça que lhe despertou tanto interesse desembarcando junto a um senhor moreno e um rapaz bem jovem.Chegou a pensar em parar o motorista e perguntar sobre a jovemsobre onde desceu a jovem, mas preferiu deixar quieto , voltar para casa , para não despertar especulações e virar alvo de fofocas na cidade.

Ao chegar em casa encontrou seu pai Sebastião, sua mãe Dona Sérgia e sua irmã Simone sentados na grande varanda e o velho Tião  Belafontes foi logo perguntando: 

- Tudo certo com o pagamento da turma? - Você demorou, heim rapaz! 

- É que resolvi ficar um pouco mais na fazenda dando uma olhada no cafezal. 

Dona Sérgia, sua mãe notou algo de diferente em Ângelo e comentou: 

- Tudo bem por lá? -  Vá tomar um banho, descanse um pouco - nada de farras com os amigos hoje heim?

 -  certa, mãe - vou dormir mais cedo hoje. 

 - Não acredito!!! - Você, meu irmão, ficar em casa em uma sexta-feira?

 - Só vendo para crer - comentou Simone. 

- Ah, - Larga a mão, minha irmã - Até parece que sou tão rueiro assim - replicou o jovem sorrindo.

Aquela foi uma sexta-feira tranquila, sem visitas, sem festas na cidade e  assim todos dormiram mais cedo, porém o rapaz não conseguia parar de pensar naqueles belos olhos cor de mel daquela linda jovem boia-fria: Beatriz da Silva.

- Haverei de encontrá-la - vou à fazenda na segunda, ela deve estar de volta!

 - pensou o rapaz. A noite foi longa, ângelo não conseguia parar de pensar na moça, virava de um lado e de outro, queria dormir para sonhar com ela, mas seu sonho foi acordado mesmo.

E assim, o dia amanheceu, o rapaz levantou cedo com olheiras e após um banho apareceu na cozinha onde Zilu, a empregada terminava de preparar o café.

-Ôxe - madrugou hoje heim patrãozinho!

O rapaz apenas riu e foi pegando um pedaço de bolo sob o protesto da mocinha.

- Eita! - Dá para esperar eu por o café na mesa? - Parece que veio da seca do nordeste, - Ôxxxi!

Durante o café da manhã, Dona Sérgia e Simone também perceberam a ansiedade do rapaz, mas nada comentaram.

O velho Tião, seu pai, mal tomou uma xícara de café e vazou para a rua, dizendo que tinha uns negócios com o dono da máquina que beneficiava café na cidade.

Já era por volta de duas da tarde daquele  sábado quando Augusto,melhor amigo de ângelo, chegou da fazenda  e veio ver seu amigo e assim combinaram sair para jogar sinuca e encontrar os amigos no bar mais frequentado de Vulcânia: o Bar da Portuguesa. E assim, já no bar,  entre zoeiras, bebidas e tacadas de sinuca, Ângelo acabou falando com o amigo sobre a tal moça da roça  que tanto mexeu com ele. 

        Augusto, em princípio, não apoiou o amigo.

 - O que é isso, cara -  louco? - Larga a mão!

- Você me conhece e sabe que não tenho preconceito de classe social, muito menos de raça, mas nós dois sabemos que não dá certo uma relação onde há um desequilíbrio de nível intelectual.

 - Você , um futuro doutor, aliás falta pouco para se formar e vai assim se envolvendo com uma desconhecida, trabalhadora rural, certamente uma analfabeta! - Fica difícil a comunicação entre vocês!

 - Olha a discrepância de linguagem, de culturas.... 

- Pera aí meu caro amigo! - Você está sendo preconceituoso sim!- E  eu disse que fiquei amarrado na beleza meio que selvagem da moça, daí a me casar com ela?

- Ah já é outra história.  Acho que foi só atração física mesmo - sei lá!

-Ah bom - Entendi!

 -Você quer mesmo é uma curtição, uma aventura; você quer é desfrutar de um "rala e rola" no meio do cafezal, não é?

 - Até aí, até eu que não sou bobo nem nada também quero!

- Não sei - o tempo é que vai dizer! - respondeu Ângelo com ares de dúvidas!


No fundo, Augusto não queria era perder o amigo de aventuras e também de lutas. Os dois participavam de movimentos de protesto contra o governo autoritário que vigorava  no país e as vezes tinham problemas com isso, mas nada contavam a seus pais que eram extremamente coservadores, apoiadores  do  regime que beneficiava fazendeiros, latifundiários, grileiros de terrras, madeireiros ilegais e  grandes  multinacionais.

 E por conta de mais um ato de protesto de estudantes na capital, Augusto estava decidido a retornar para a a luta dos estudantesantes de terminar as férias. Não queria ficar fora da mobilização que estava sendo planejada às escondidas. 

 - Volto amanhã para a capital, você fica mais uns dias, não é Ângelo? 

 - Aproveita então! - Quem sabe você encontra sua camponesa, sua gata borralheira embora você não seja aquele prícipe dos contos de fadas. - Estas mocinhas da roça se fazem de inocente , mas devem ser muito amorosas, se é que você me entende.  

 - Deixe de besteira, rapaz! - Respeita as moças da roç

 - Vou ficar sim, mais uns dias e só vou para a capital no primeiro dia do retorno das aulas. - Diga aos camaradas que desta vez não posso estar com eles, mas nas próximas passeatas, estaremos juntos. - Muito cuidado; fica esperto porque estes capangas deste governo fascista não estão de brincadeira. -Já temos muitos companheiros desaparecidos e sabemos que o pau-de arara come solto no DOPS. - vamos usar da inteligência, o que eles não tem sobra em nós!´- alertou Ângelo.

Assim Augusto voltou para a capital e Ângelo ficou na cidade, com a expectativa de rever a sua bela roceira.  

Na segunda-feira , mal tomou seu café e saiu  cedinho para a Fazenda Àgua Grande,na esperança de  encontrar a  moça na colheita de café juntamento com os outros trabalhadores. 

O rapaz ficou horas entre os cafezais, aqui e ali encontrava um pé de melancia de onde quebrava as mais bonitas e aproveitava. Também encontrava pés de mamão com frutas maduras e doces , mas a moça , nem o cheiro. O que ele encontrou foi um ninho de cobras verdes no tronco de um velho pé de café, mas deixou as bichinhas em paz e foi logo para a sede da fazenda em busca de um almoça na casa do capataz.

 Não quis perguntar para ninguém e nem mesmo para o capatazsobre a misteriosa jovem Beatriz. Não queria ser alvo de brincadeiras e conversas naquela fazenda.

Sem notícias de Bia, o rapaz foi embora e assim chega mais  um fim de semana, mais uma  noite de sábado que  para Ângelo era um tormento, só pensava naquele ohar doce da moça, aquele rosto lindo embora empoeirado da lida da colheita de café.

- Que magia é esta? - Será que isto é o que chamam de paixão, meu caro leitor?

 

Dona Sergia,a matriarca dos Belafontes,  percebeu a mudança de comportamento no filho e não deixou de intervir. Era domingo.

- Ângelo, meu filho, estás com febre? - Comestes pouco no almoço, estás de faroís baixos, nem levantaste  para o café, estás a perambular pela casa, feito um zumbi! - Nem no futebol dos domingos a tarde , tu não fostes?  -  Até teu pai foi para o campo de bocha do lado do gramado - Ah  deve estar enchendo a cara no buteco do campo e pagando cerveja  pras raparigas e para os cachaceiros- aquele bode velho.- Resmungou a velha e virtuosa senhora. 

 - Que é isso , minha mãe! -  Papai também tem direito de se divertir com seus velhos amigos.- A Senhora não conheceu ele em um  campo de futebol? - Questionou o rapaz.

 - Maldita tarde, meu filho! - Aquela que inventei de ir  naquele campo de futebol. - Que Deus, na sua infinita bondade, me perdoe!!! 

 - Resmungou a velha senhora que carregava um sotaque de português de Portugal misturado com o espanhol de Málaga.

          

            

               

 

 

 

 

A matriarca e a amada de nosso herói.

 

 

 Colônia da Fazenda Olho D'agua.

 

 

A futura sogra de Bia.

Ângelo passou a viver um dilema. Contar ou contar para sua mão sobre o que estava acontecendo com ele; a paixão repentina por uma moça de familia pobre. Conhecendo bem a mãe que tinha, sabia que não teria nenhum apoio. Imagina um jovem de família rica, tradicional, um futuro médico poderia ter como esposa uma moça de famíla pobre, certamente, ignorante, sem estudos, jamais. Quanto ao pai dele e a irmã, talvez seria mais fácil a aceitação pois eram menos preconceituosos, inclusive, dizem à boca pequena que o velho, veio de família humilde das bandas das Minas gerais.  

Dona Sérgia era uma senhora de bem, pela moral e bons costumes, uma cristã católica fervorosa. E por estas virtudes ,era sempre convidada a ser madrinha de crianças assim que nasciam. Como uma boa cristã, a matriarca da família praticava a caridade ajudando famílias carentes pobres  e até nordestinas e  negras, que por lá apareciam em busca de trabalho nas colheitas de café. Dona Sergia fazia parte de um grupo de senhoras misericordiosas que uma vez por semana visitavam a Santa Casa de Misericórdia, onde levavam orações e conforto aos doentes e muitas vezes promoviam Chá Beneficente com bingos, rifas, livro ouro, onde as pessoas assinavam e faziam doações em dinheiro e sempre para a caridade, a benvolência desta irmandade.Ao menos duas vezes por ano, a irmandade promovia a Marcha para Jesus junto com os soldados de Cristo, jovens doutrinados à obediência aos preceitos cristãos, verdadairos guardiões dos mandamentos da Santíssima Igreja Católica Apostólica Romana.

O Padre Afonso estava sempre à frente carregando o Santíssimo Sacramento e puxando terços e cantos de louvores à Eucaristia e à Imaculada Conceição de Maria, Nossa Senhora Aparecida, de Lourdes, de Fátima e da Chama Eterna.

Na cabeça de Ângelo, uma senhora como sua mãe, mulher virtuosa, católica fervorosa como era, não podia ser preconceituosa, não podia criar impecílios  ao  relacionamento do filho único  com uma moça de família humilde. Assim pensava  o jovem rapaz que arquitetou um plano para que  sua mãe o encontrasse com Bia, a sua bela Beatriz poupando ele de ter que se abrir com ela. 

 A fazenda Água Grande, a maior da família e onde Ângelo conheceu Bia, era administrada por Seo Chico Mulato, homem de confiança dos Belafontes, uma espécie de capataz que cuidava de dar colocação, dispensar e cuidar das 14 famílias que moravam na colônia da fazenda. Estas famílias trabalhavam como porcenteiros, meeiros ,sistema em que toda a colheita de café ou de outras lavouras que estas famílias produziam. Metade da fazenda foi dividida em lotes de terras que variavam entre 5 a 15 hectares de acordo com o tamanho de cada família. 

A colheita de café, a porcentagem era de 40% para o colono e 60% para o patrão, no caso, a família Belafronte. Outras lavouras como as de algodão, amendoim, mamona, a divisão era de 50%. 

 

Voltando ao plano de Ângelo, estava chegando as festas do mês de junho. Era tradição na fazenda e na região, muitas festas religiosas de São João, Santo Antônio e São Pedro onde rezavam terços, erguiam mastros com a imagem dos 3 santos, soltavam muitos rojões e dançavam muito com animação de sanfoneiros, além das quadrilhas, a dança que era realizada mais na praça da matriz da cidade de Vulcânica. 

Você, caro leitor, já percebeu que o plano de Ângelo, tem tudo a ver com estas festanças? 

 

As festas juninas estavam pipocando por todos os lados, a cidade toda enfeitada de bandeirinhas rojão para todos os ladodanças de quadrilha e muitas rezas. 




 

 A FESTA NA FAZENDA.


Naquela noite, Ângelo estava sem seu velho e bom companheiro Augusto.Mas tinha muitos amigos na cidade e também admiradores. Por ser um jovem desprovido de qualquer preconceito ,era muito querido tanto entre os mais abastados, mais ricos quanto a as mais humildes, volantes boias-frias. Aquela noite de sexta-feira estava agradável, o clima estava bom, nem calor e nem frio com costumava fazer em anos anteriores, afinal era a estação do inverno. A lua estava cheia , grande e imponente flutuando em um céu escuro sem estrelas para concorrer com sua beleza.

Ângelo chegou à sede da fazenda onde a festa já estava muto animada, com muita música de sanfona, triângulo, viola , enfim, o forró corria à solta.

Entre cumprimentos, bajulações de uns e outros interessados em cachaça e quentão de graça, porque Ângelo não economizava quando se tratava de agradar as pessoas independentemente da condição social ou cor da pele,mas  seu olhar buscava agradar mesmo era uma moça que não saía dos seus pensamentos: Beatriz da Silva, a doce Bia. Se o povo da cidade e de toda a região não perdia por nada , aquela tradicional festança, Beatriz certamente seria encontrada por lá. Mas a vida não é uma novela. A moça não estava naquela festança.

O jovem, ainda esperançoso de encontrar a musa de suas noites e dias, ao encostar no balcão de uma barraca, a da pesca, sentiu umas mãos perfumadas tapando seu rosto para que adivinhasse quem era. 

Pelo perfume almiscarado e envolvente, ele reconheceu logo que se tratava de Joia, velha colega de escola ,ou Dona Jóia, como agora era assim tratada pelo povo do lugar.

- Joia? - Você por aqui?

- Como me reconheceu meu amigo?

- Ora!.-Quem que eu conheço que usa almíscar? - Além das mão mais macias do mundo?

- Pois é, amigo. O almíscar, dizem que é masculino, mas é o meu perfume preferido.

- Já as mão macias tenho minhas dúvidas. Estas mão já pegaram no cabo da enxada , já colheram café, algodão, não nasci em berço de ouro que nem você.

- Você uma uma guerreira, mas me diga, o que está fazendo da vida depois que perdeu o grande amor de sua vida, o Lorenzo? - Que tragédia foi aquela heim?

- Estou na luta. Administrando as terras  que me couberam de herança. - Mas e você, Ângelo, não vai nunca se apaixonar de verdade? Dar netinhos para dona Sergia?- perguntou a velha companheira dos tempos do primário no colégio principal da cidade.

- Então Dona Joia. Não espalha, mas desta vez, acho que o cupido me pegou

 - Conheci uma linda trabalhadora aqui na fazenda quando vim pagar o povo na cplheita de cafá há dias atrás, não consigo tirar ela da minha cabeça.- Vê se pode uma coisa dessas?

- Pode sim - Quem disse que não?

- Conheço quase todo mundo desta região, quem sabe, vou poder te ajudar.- disse a jovem senhora.

- Então, só sei que o nome dela é Beatriz da Silva e mora no Encantado..

- O quê? - Será minha amiga Bia? - descreva mais - do bairro Encantado?- Como ela é?

- Uma linda morena, estatura mediana, cabelos negros e cacheados, boca linda, olhos cor de mel.- Falou o rapaz fazendo gestoscom as mãos de corpo de violão.

- Este mundo é pequeno mesmo. A Bia é minha amiga. Mora no Encantado, mas trabalha em Candeias. De vez em quando, nas férias vem ficar com sua família e vai para a roça também.

Então é isso. - Você caiu do céu, dona Joia. Vai me passando o endereço desta moça que mexeu demais comigo. Será que é solteira?

- Sim, ela é solteira, desempedida, mas quanto ao endereço, tem um probleminha. Ela trabalha em um Convento da Congregação das Irmãs Silvianas -  lá não entra rapazes, nem cartas de pessoas que não sejam da família, são entregues. Mas.....

- Mas? - Vamos Joinha, diga logo como chegar até ela?

- Então, a madre superiora é minha prima. Ano passado pude entrar lá para uma visita.

- Deus é mais - vamos lá neste sábado?- Amanhã?- Ela só trabalha lá , não é? - Não pretender ser freira, não é?

- Calma rapaz. Preciso agendar primeiro. Tenho que telefonar e pedir autorização.

Amanhã de manhã eu ligo. Se autorizarem eu te levo no meu carro. E lembre-se: Você não entra. Me espera no jardim em frente.

- Combinado Dona Joia - Você é que manda. - Eu ,que tenho juizo, obedeço!
-O que não faço em nome do amor? - E ainda por um amigo!





Dona Joia. ( ilustração de Cicera Sousa)










 

 

 

 

 





 

 

O encontro de almas gêmeas.



Era um domingo de manhã, Joia se preparava para parair visitar Bia na companhia de Ângelo quando ouviu pessoas batendo palmas na frente da sua casa do bairro Tijuco Branco onde ficava nos fins de semana. Eram duas mulheres muito bem vestidas com um livro nas mãos , pareciam Bíblias.

Com suas sombrinhas coloridas para proteger suas peles brancas do sol já escaldante se dirigiram à Dona Jóia e uma delas foi falando:

- A Senhora aceita ouvir a palavra de Deus? 

- A sua salavação está nas mãos do Senhor, mas é preciso se converter!

- Bom dia, Senhoras. Tenho minha religião, participo diariamente dela em comunhão com a Irmandade, pratico a caridade, o amor ao próximo e sou convertida desde criança quando fui batizada, portanto é melhor que as senhoras procurem pessoas desamparadas, desorientadas , perdidas nos vícios e na fornicação da luxúria ou da prostituição para doutriná-las na sua crença.

E agora , me dão licença que estou atrasada para um importante compromisso.

E assim foi dando ré em sua Maverick azul e saiu levantando poeira.

Enquanto isso, na casa dos Belafontes, Ângelo já pronto, tomava café com sua família. Sua mãe, curiosa, perguntou:

- Então hoje tu vais com a gente na missa, filho! - Vejo que estais pronto.

- Não, mãe, vou em Candeias e talvez eu só volto no fim da tarde.

- Mas você nem preparou o carro, rapaz! - Ou vai de carona com este teu amigo grudento, o  Augusto - perguntou seu pai, Sebastião.

- Vou de carona sim, pai, mas não é com Augusto.

- Vou com Dona Joia no carro dela.

- O quê? - Retrucaram ao mesmo tempo, seu pai, sua mãe e Simone.

- Você vai para Candeias de carona com a viúva negra? - Replicou sua mãe com ironia.

- Vê lá em rapaz. - Você pode ser a próxima vítima da marafona - disse sua irmã em tom de brincadeira.

- Gente, vocês não estão vendo que Jóia está apenas sendo alcoviteira de alguma sirigaita para um encontro com Angelo? - afirmou Seo Tião.

- Vocês não tem jeito. Deixa o maninho ser feliz? - Disse Simone.

- Você me ensina a dirigir, meu irmão querido! - També quero sair por aí dirigindo meu carro, também quero aproveitar a vida! - disse a maninha Simone.

- Você nem saiu dos" cueiros", menina! - Sua cara de cuia sem lavar. 

 Brincou o rapaz apertando as bochechas da menina.


Nisso, ouviram a campainha. Era  Joia que havia chegado e chamava pelo rapaz?

- Ela vai dirigindo aquela joça? - Vê lá em filho. - Mulher no volante, já viu

 -  Ah! - Cuidado com a língua do povo! - Fica andando por aí com esta mulher, fica!

- Depois não diga que não avisei. Esbravejou sua mãe.

- Bom, primeiro que o carro dela é um belo de um Maverick, segundo, estou pouco me lixando par a língua do povo. -  Por que vocês não vão logo para a missa?

 - Já estão atrasados - O padre vai dar um pito  com vocês. - Deixem-me em paz. - Sei o que estou fazendo, tchauuuu.

Dona Sergia e Simone acompanharam o raz até o portão da mansão e com ares de falsidade, a virtuosa senhora a convidou para entrar.

- vamos chegar, Joia ! - Vem tomar um café com a gente! 

- Ainda está na mesa! 

- Zilu fez um bolo de cenoura com cobertura de chocolate que é de comer rezando!

- Agradeço, Dona Sergia. - Vai ficar para outro dia.

- Combinei com Ângelo de irmos à Basílica de Nossa Senhora das Candeias, agardecer a Deus pela colheita farta deste ano!

- Verdade. A safra está uma beleza, choveu beme na hora certa. Vou chamar o velho e Simone para irmos lá também, mas em outro domingo.

-  Por enquanto vamos rezando aqui mesmo com o Padre Afonso!

_ está certa, Dona Sérgia. - Bora então, Ângelo?

Até mais , fiquem com Deus! E assim, Joia foi dando partida e saiu cantando pneus rumo à saída para a rodovia que ligava Vulcânia à Candeias.





 

                 Enfim, o encontro das almas gêmeas.

 

 

Duas horas depois, Ângelo e Joia já estão em Candeias onde ela deixou o carro estacionado na Praça da Matriz sob os cuidados de Ângelo e se dirigiu ao Convento das Irmão Silvianas que ficava  ao lado da imponente basílica, o Santuário de Nossa Senhora das Candeias.

O combinado era  que Joia  pediria autorização à Madre Superiora, sua prima, para fazer um passeio com a amiga Beatriz e assim ela encontraria com o seu apaixonado Ângelo Belafonte.

Obviamente, Joia avisara Bia que não estava só e que queria que ela conhecesse um amigo que a acompanhou até a cidade.

Ângelo estava ansioso, chegava a roer as unhas, após ter tomado uma "Crush" refrigerante com sabor de laranja que era muito vendido na época. Mascava chicletes, tentando conter o nervosismo, olhava o movimento da praça, do comércio, pensou em ir até a MESBLA ou Casas BURI comprar um presente para sua amada, mas achou que não era o momento certo para encher a moça de mimos.

A ansiedade era tanta que o rapaz teve vontade de fazer xixi, olhou para a praça e viu um banheiro público onde foi logo "tirar água do joelho" expressão usada na região. Nisso chega Joia acompanhada de Bia e não encontra o rapaz. 

- Onde está o seu amigo que você tanto quer me apresentar, minha amiga!

- Deve ter ido tomar uma água ou um café.

Neste momento apareceu Ângelo, que meio sem graça foi logo dizendo.

- Você se lembra de mim, Beatriz da Silva!

Bia ficou sem ação ao ver o rapaz. Sentiu uma pulsação tão forte no coração e as pernas ficaram bambas.

 - Preciso me sentar. Havia um banco destes de praça ao lado do carro e ela se acomodou e meio com a voz ofegante, respondeu; 

- Claro! - Lembro sim.

 - Você é o moço que um dia fez o meu pagamento lá colheita de café na fezenda do seu pai, em Vulcânia,não é?

- Sim, que memória boa heim? - respondeu o rapaz que não tirava os olhos da amada.

- Não sabia que você era amigo de Joia.

 - Que bom que veio? - Disse meio timidamente, a moça.

 - Então, vim porque quero saber mais sobre você! - Fiquei impressionado com sua beleza, seu jeito...

 - Vou comprar umas coisinhas , não demoro. - Fiquem conversando, se conhecendo, enfim.

 - Vou ao Pão de Açúcar, lá sempre tem boas ofertas, até logo mais - disse Joia com ar de mistério.

Ângelo, então convidou Bia para almoçar no Madalosso, restaurante italiano famoso em Candeias.

 - É um lugar de gente rica, bem vestida,não sei se vou me sentir a vontade num lugar desse, respondeu Beatriz.

- Se preferir, vamos à lanchonete da praça, podemos comer um lanche e depois tomar um sorvetão.

- Me  desculpa , mas prefiro.

Não precisa pedir desculpas, vai ser até mais divertido, a lanchonete Mr. Donato.

E assim os dois foram à lanchonete, conversaram,comeram um lanche, tomaram refrigerantes, sucos naturais e depois sairam caminhando na praça toda florida  com suas lindas palmeiras imperiais.

Com aquele clima, natureza, pássaro, flores não tinha como não rolar um romance. Ângelo viu que no canto da boca de Bia havia um restinho de sorvete. Pegou seu lenço branco e limpo e se ofereceu para limpar e foi aí que não resistiu e roubou um beijo de Bia que ficou de novo com as pernas bambas. Beatriz sentou em um banco, fixou bem seus olhos nos olhos claros do rapaz e com aquela voz doce , falou:

- Você não devia ter me beijado.

-  Sou uma moça de família pobre, sou muito simples, não posso me iludir , acreditando que você pode querer algo sério comigo. Já sofri muito nesta vida e......

Ângelo não se aguentou e tascou nela desta vez, um beijo mais demorado.

- Eu te amo  princesa. - Desde que a vi naquele cafezal com o rosto coberto de poeira, não consegui dormir direito , seu rosto lindo , seu jeito de ser não sai da minha cabeça.

- Mas......

- Não diga nada ainda? - Deixa eu dizer mais sobre o meu amor por você, deixa...

- Quer namorar comigo! - Você acha que eu sou digno do seu amor? 

- Claro que sim, Ângelo! - Eu também não esqueci mais daquela tarde, seus olhos azuis, seu rosto, seu sorriso - como esquecer do jeito que você olhou para mim? - Não voltei mais à Vulcânia desde aquela tarde - não podia correr o risco de te encontrar, mas.....

Ângelo, bastante emocionado fazendo um  carinho nos cabelos da jovem, insistiu

 - Mas....- Qual o problema ?

 - Sempre sonhei em encontrar o amor da minha vida e agora, tenho certeza que encontrei. - Quer ser minha namorada?

- Sim, claro que quero! - Apesar das nossas diferenças, também me apaixonei por você!

- Como vamos nos encontrar? - Posso vir aqui aos fins de semana te ver?

- A gente dá um jeito, meu lindo!

 - De vez em quando a Madre superiora me dá uns dias de folga para visitar minha família . - Eu aviso você através da nossa amiga Joia, aqui não tenho autorização para sair , a não ser quando recebo visita de amigas, mas tem que ser da confiança da chefona! - Assim com a Joia.

 - Aliás ela já deve estar esperando a gente lá no carro - vamos? - Também preciso voltar ao Convento, tem muito trabalho me esperando.

- Vamos, vamos sim , você tem razão. 

E os dois pombinhos foram de mão dadas, as vezes Ângelo a abraçava e a beijava até que chegaram onde estava o carro onde Joia os aguardava.

- Gostaram do passeio heim? - Que bom que se conversaram, se é que me entendem! - Falou meio sem graça, Dona Joia.

- Ângelo sorriu e abraçou também a sua amiga , sua cúmplice , sua cupido sem flexas, nem asinhas.

Ali mesmo, Ângelo se despediu de sua amada com um abraço apertado e um longo beijo e seguindo recomendações de Joia, não acompanhou as amigas até o portão do convento.

Já de volta, desta vez Ângelo veio dirigindo todo animado escutando no rádio da Maverick de Joia , canções românticas de Roberto Carlos, Odair José, Diana,Celly Campelo, Vanderleia, Beatles e Joia também cantarolava " De que vale a minha boa vida de play boy, se entro no meu carro e a solidão me dói." Foi uma viagem de volta muito divertida.

 Por volta das 7h00 ,já noite chegaram em frente da mansão da família Belafontes.

- Não tenho como agradecer minha companheira de lutas! - Hoje você me presenteou com o dia mais feliz da minha vida! - Não sei ainda como vou aguentar ficar uma semana ou até mais sem ver minha princesa, mas um dia de cada vez, obrigadoooooo!

- Joia sorriu dizendo:

- Ai de você se fizer Beatriz sofrer. - Ela é que nem uma filha ou irmã mais nova para mim, até mais! 

- Vou pegar meu rumo até meu aconchego!

Ângelo  abriu o portão da mansão e já no jardim estranhou o silêncio em sua casa.

As luzes das varandas e dos jardins estavam acesas, da sala e os outros ambientes todas escuras, exceto a luz do seu quarto no segundo pavimento estava acesa. Era domingo e Zilu tinha folga após o almoço e só retornava na segunda-feira.

- Já sei - Foram para a missa, o pai deve estar por aí nas corrutelas ou nos butecos, mas quem está no meu quarto? -  Pensou o rapaz.

Logo viu que algúem abriu as persianas do seu quarto e apareceu na janela.

Era seu melhor amigo Augusto que ao retornar da capital não encontrou o amigo em casa e  ficou esperando.

 Como Dona Sérgia e Simone tinham que ir à missa das sete da noite , pediu que o amigo aguardasse Ângelo em seu quarto.

- Até que enfim, heim? - Estou te esperando desde as 4.

 - A festa estava boa em Candeias?

Foi dizendo, Augusto enquanto vinha ao encontro de Ângelo na escada estilo colonial que dava acesso à sala de visitas.

- A festa? - Ah! - Foi ótima!

 - Foi brasa, mora?

 - Foi a melhor festa de toda a minha vida! - Dá um abraço aqui, companheiro! 

 - Sei. - E que festa heim?

 - Encontrou finalmente sua camponesa? - E aí, rolou?

 - Tá certo meu camarada!

 - Aproveite bem a vida porque na Capital as coisas vão de mal a pior.

- Filhos da puta? - Até quando esta cambada deste governo vai perseguir a gente? - Pegaram mais algum companheiro?

- O pior é que pegaram. Lembra do Levi, aquele ex-seminarista?

 - Lembra da Luiza, a jornalista?

 - Estão desaparecidos. -Sabe lá Deus se ainda estão vivos.

-  Sabe sobre o fillme proibido? - Conseguimos com o Braulio do cinema, uma sessão para nosso DCE, mas um infiltrado dedurou e quase fomos todos presos. - - Tivemos que fugir pelos fundos da casa do Braulio e a cavalaria nos aguardava do outro lado da rua e atiraram para nos matar, mas da nossa turma, só o Zé Paulo se feriu, masmesmo ferido, escapou das garras daqueles miseráveis.

- É;  o cerco está se fechando!

- E o vigário aqui da cidade está usando seus sermões para apoiar as atrocidades que estes malditos fascistas estão cometendo contra o povo e contra a nação em nome de um deus que nada tem a ver com os evangelhos.

 - A tal marcha pela família, tradição e propriedade já vem acontecendo por aqui e o pior -  fazem o gesto do cramulhão da Alemanha. - Chamam de Marcha para Jesus! - Nem Genésio quer esta marcha! - Nada a ver, coisa de fanáticos com medo de perder suas regalias de parasitas do Estado. - Trabalhar que é bom, nem pensar! - Nunca souberam o que é trabalho! - Disse indignado, nosso herói Ângelo Belafontes.

- Então meu camarada - mas a resistência continua. O sangue derramado de nossos camaradas não será em vão. - Falou Augusto com determinação.

 - E as aulas, na semana que vem, estão voltando.

 - O tempo vai fechar ainda mais. - As greves estão pipocando por São paulo, Rio, Recife, Porto Alegre, mesmo com a repressão e ameça dos abutres! - Informou Augusto que estava mais a par das notícias sobre a resistência dos trabalhadores pelo país afora.

Neste momento chegam da missa Dona Sergia e Simone e os dois mudaram de assunto.

- E aí meu irmão? - Como foi a colheita de café?  - Pelo jeito foi muito boa heim!

- Foi uma das melhores que já tivemos, Augusto. - respondeu Ângelo.

-Melhor mesmo foi o sermão do Padre Afonso, meninos! - Vocês precisam ir mais à missa. - intima, Dona Sergia.

- O que é Comunismo que o Padre tanto fala, heim mãe! - Ele agora deu para falar que nem o Velho do Sacolão - só fala do fim do mundo. - disse Simone.

- Outra hora eu falo sobre estes comunistas dos infernos , filha! - Disse,  com ódio, a virtuosa senhora, Dona Sérgia.

E você Augusto? - Vai ficar com a gente esta noite? - Já é tarde!. 

- Amanhã Ângelo leva você! 

- Não, obrigado Dona Sergia. O Bruno está vindo me buscar, é o meu cunhado, lembra?

- Sim, casado com sua irmã Tereza, aquela gata borralheira.

- Isso, ela não sai de casa para nada. gosta mesmo é de cozinhar para a peãozada, cuidar das crianças, da casa e do marido!

Nisso ouviram uma buzina. 

- Chegou, só vou pegar minha mochila.

Augusto se despediu de Simone , de  Dona Sergia e Ângelo o acompanhou até o portão.

- E seu pai, como está? - Perguntou Augusto. 

- Cada dia pior -  Não liga mais para as fazendas, deixa tudo nas mão do Chico Mulato - Vive na Mansão das pedras, nos butecos bebendo e jogando.

 - Ele não é diferente do seu velho.- respondeu Augusto.

 - Então, o meu pai? - Estou desconfiado que ele tem uma amante fixa. - Anda muito misterioso, às vezes fica o fim de semana fora de casa, mas falamos depois sobre isso - disse já se despedindo.

E assim, na  velha " Variant " vai embora com seu cunhado Bruno.



                                                     Fim das férias.

Naquele último domingo das férias, de manhã, Ângelo estava morrendo de saudades de sua amada, já que Joia, por conta de um compromisso não pode ir novamente com ele à Candeias. Sozinho, ele não podia ver Bia.

 Mas, o destino conspirou  a favor dos dois amantes.

 Ouvindo o rádio, Dona Sérgia chegou ao quarto de Ângelo.

 - Filho! - Você está sabendo? - O Convento das Irmãs Silvianas sofreu um ataque dos comunistas nesta madrugada. As irmãs nada sofreram, mas o Convento está fechado. A Madre Superiora dispensou as funcionárias e as irmãs estão sendo transferidas para a capital até que seja feita a reforma da parte que foi destruída por uma bomba caseira: a cozinha e refeitório.

- Não é lá que trabalha a filha da Geni, do Encantado?

- Quem é Geni do Encantado, mãe? - Estou indo pra lá.


- Fazer o que lá filho?  - Cuidado com estes comunistas, são perigosos! - Fica bem longe destes pestes!

 O rapaz não escutou a mãe, se arrumou rapidamente, desceu , pegou o Jeep e saiu apressado. Porém ao passar ao lado da estação rodoviária, viu um ônibus estacionado e uma linda moça com uma bolsa grande e uma mochila indo em direção do ponto de carros de aluguel.

 Ângelo não estava acreditando no que estava vendo.

Era sua bela Beatriz. Ele se aproximou, a abraçou e a   beijou com muito carinho dizendo:

Marcamos um encontro por telepatia, é?

 - Oi amor!!! - Como sabia que eu estava voltando?

- Minha mãe ouviu a notícia no rádio e eu estava indo até Candeias quando a vi chegando.

Então. - Vim para ficar. O Convento está fechado até segunda ordem.

- Quem jogou uma bomba no mosteiro? - Por lá já sabem alguma coisa?- Perguntou o jovem apreensivo.

 - Então, não comente com ninguém, mas há uma suspeita que foram os jagunços dos generais.

 - Annhhhh! - Isto é muito grave,minha princesa!

- É que a Madre Superiora não se curvou ao regime e continuou denunciando as mazelas desta gente, inclusive lutando contra as desigualdades sociais e defendendo a terra  e casa própria a todos os mais pobres. Por conta disso, entrou para a lista do que eles chamam de comunista e deu no que deu.

- É mas a noticia que circula pelo rádio e TV é que os comunistas que atacaram o Convento porque são contra qualquer religião.

 - Então. Você sabe como as notícias são manipuladas com esta Censura. -Vamos mudar de assunto, não émeu amor!

- Tem espiões por todos os lados escutando tudoo que as pessoas conversam. - alertou a linda moça que também era militante das lutas contra o regime.

- Está certinha, meu bem! - Venha! - Vamos tomar um sorvete ali na Doce Deleite, depois eu te levo em casa. - Assim posso conhecer sua família.

- Não, não meu bem- Tenho vergonha. - Minha casa é muito humilde.!

- Que bobagem, meu amor! - vamos - primeiro, o sorvete, Baby!

E assim, tomaram sorvete, curtiram os jardins da cidade e por fim, o rapaz mesmo contrariado pela moça, foi levá-la até a sua casa.

 Por ruas de terra e areia chegaram em frente a uma casa de madeira com uma cerca de balaústre , flores na frente e pomar nos fundos.

- Bem-vindo à minha humilde residência, seu teimoso. - disse carinhosamente, Beatriz.

- Dona Geni, mãe de Bia, veio logo a recebendo com um abraço e um beijo no rosto.

 - Deus te abençoe minha filha. - Nós aqui tava preocupado com o que aconteceu.

Ângelo, já com as mochilas de Bia nas mãos foi se aproximando

- Boa tarde, dona....

- Geni - Sou a mãe de Beatriz e o senhor, quem é?

 - Seminarista?

- Não, mãe! - Não está reconhecendo? - É o Angelo Belafontes.

 - Ele me deu uma carona.

- Ah  - Filho da Dona Sergia?

- Agora estou me lembrando.

 - Entra, não repara - é casa de pobre!

O rapaz entrou e logo Dona Geni veio da cozinha com uma xícara de café para Ângelo e também para sua filha em uma bandeja.

- Cadê o pai, o Chico, a Wanda?

- Então, eles almoçaram e foram para o torneio de futebol lá na fazenda Àgua Viva.

- Foram no caminhão do Seo Jorge! - Chico vai jogar bola no time da vila.- Respondeu Dona Geni.

- Obrigado pelo café - foi um prazer conhecer a senhora, mas é hora de eu ir pra casa.- falou Ângelo já saindo rumo ao portãozinho de madeira.

Beatria o acompanhou e ali trocaram beijos sob os olhares da Dona geni e da vizinhança que saia à rua, outros esticavam o pescoço nas janelas das casas daquela rua.

- A gente se vê logo - Te amo!

 - Tchau amor!!!  Dona Geni viu a filhase  despedir do amor da sua vida.

- Oxente! - Você está namorando este moço rico, filha?

- Então, mãe!

 - Depois eu conto tudo. -  Preciso de um banho e vou descansar um pouco.

- Conta mesmo, filha, mas vá.

 - Vá tomar seu banho.

 - Tem comida quentinha no fogão, visse?

Beatriz foi tomar um banho,depois  foi descansar e algumas horas depois foi acordada com a chegada do pai dela, do irmão Chiquinho e Wanda também sua irmã.

Wanda e Chiquinho foram correndo abraçar Bia, o pai também foi logo ver sua filha querida.

- Que bom que você veio sã e salva, filha. - Nós tava preocupado.

-É pai, agora vou ficar um tempo com vocês.

- Vou para a roça também. Acabou a colheita de café?

- Não precisa filha, o Chico e eu damos conta das despesas de casa.

- Filha, eu vou com seu pai mais o Chico, filha.

 -Você cuida da casa.

- Velho?-  Nossa filha tem uma novidade! 

- Ela está namorando. - Adivinha quem é o namorado dela?

- Como assim, minha filha? - É um rapaz lá de Candeias? - perguntou o pai.

- Não meu pai. Meu namorado é o Ângelo Belafontes. 

- Aquele playboyzinho? - perguntou Chiquinho.

- Você vai ficar rica se casar com ele.  Retrucou  a menina Wanda.

- Tenha cuidado minha filha, heim!!!

 - A família dele é rica, aquela Dona Sérgia - Sabe como ela é! - Se diz caridosa, que gosta de ajudar os pobres, mas já viu! - Desde que saibam qual é o lugar deles! Falou o Seo Francisco, preocupado.

- Gente, não se preocupem! - Ângelo é um rapaz de bem, respeitador e cada dia mais parece me amar e eu  estou cada dia mais apaixonada por ele!  Afirmou Beatriz.

Como as férias estavam terminando, Ângelo combinou de fazer uma visita à amada e assim o fêz. Foi lá, conversou com os pais da moça sobre suas intenções com a bela jovem e avisou que teria que retornar à capital por conta da volta às aulas, mas que estariana cidade em todos os finais de semana e viria ver a amada sempre.
A família da jovem ficou encantada com a educação e o carinho do rapaz com todos.
- Além de educado, seu namorado é lindão heim Bia!  Disse a espevitada Wanda, a caçula da família.
- Ah menina assanhada!!!! - Não sabe ficar de boca calada, repreendeu a mãe, Dona Geni.




Assim, Ângelo retornou aos estudos e também às lutas do movimento estudantil contra o regime ifascista instalado no país. Naquela semana apareceu na cidade, soldados armados em todos os cantos da cidade.

Os homens do regime, desta vez, a cavalaria causou o terror na praça onde sempre tinha pessoas conversando.

 E na quarta-feira a noite o Velho eremita estava na Praça da Matriz cercado de pessoas escutando suas histórias e profecias, quando os soldados se aproximaram e já foram ordenando que se dispersassem, que fossem para suas casas, era o toque de recolher.  

Como muitos não obedeceram, eles atiraram para o alto, lançaram bombas de gás lacrimogênio no povo, fazendo com que o Velho do Sacolão saisse correndo em meio a fumaça e explosões.

 - Malditos !!!! - Vão queimar no fogo dos infernos!


Eram tempos de Ato Institucional do regime , que proibia qualquer tipo de

aglomeração de pessoas para qualquer tipo de conversa e também a ordem era que todos se recolhessem antes das dez da noite.

Naquela noite , Beatriz havia saído de casa para ir a uma novena do seu Grupo na igreja, onde rezavam, mas també discutiam sobre a situação do povo oprimido, ela participava das CEBs, Comunidades Eclesiais de Base, que convenhamos não tinha lá muito incentivo do pároco, o velho Padre Afonso.

 Ao ouvir o barulho de tiros e ver fumaça na praça percebeu logo o que estava acontecendo.

A moça saiu  caminhando às pressas em direção a sua casa e na avenida principal ouviu uma buzina. Ficou ainda mais amedrontada.

Era Joia, sua amiga, ou Dona Joia, como era conhecida dirigindo sua "Maverick"

-  Beatriz? - Entra aqui, eu te deixo em casa!

- Não é seguro caminhar sozinha a noite com este caos nas ruas.

- Eita! - Que Deus existe! - Você me salvou, minha amiga! - Saudade!

- Eu também, Bia! - Que surpresa boa!

Já a caminho da casa de Bia, Joia ia lembrando dos velhos tempos em que havia 

casado com o filho mais velho dos Vacarini mesmo contra a vontade dos pais dele.

Infelizmente o marido veio a falecer fazia pouco tempo em uma briga de boteco.

- Fiquei sabendo da tragédia, amiga. Eu já estava trabalhando no Convento.- Que pena! - Sei o quanto você o amava! -

Juntos enfrentaram a família dele e se casaram.

- Você morava na fazenda Olho Àgua Viva?

- Então Beatriz. Vivemos por quatro anos lá mesmo, fazenda onde comi o páo que o diabo amassou.


 - O velho queria deserdá-lo e você sabe o motivo, né? - Velho racista!

 - Mas eu não guardo mágoas, nem rancor de ninguém. Deixo por conta da lei

do retorno.

- O que aqui fazemos, aqui pagamos.

- Colhemos somente o que plantamos neste mundo.

- Veja a situação dele hoje? - O velho está acabado, falido e virou cachaceiro dos

piores: aquele que diz que é cabra macho, acha que é o bonzão quando bebe e só arranja encrencas.


 - Perdeu o respeito que tinha quando era o segundo maior fazendeiro da região

e hoje vive apanhando que nem cachorros pelos botecos.

 - Juro que jamais desejei mal a ele, muito menos à família dele, embora tenham

me causado muitas humilhações quando eu e Lourenço nos apaixonamos.

- Conheço você, minha Joia rara!- Sei do seu bom coração - respondeu Bia, já em

frente sua casa.

- Entra minha amiga. - Minha família vai gostar de te ver.

- Fica para outro dia, querida! - Temos muito a conversar sobre como anda sua

vida depois de conhecer o amor de sua vida.

- Sim, precisamos conversar muito mais.

- Que tal a gente se encontrar amanhã?

- Ótimo, Bia. Venho buscar você para conhecer minha casa na fazenda.

- Combinado! - Até lá e obrigado por ter me salvo daqueles abutres do regime.

No dia seguinte Joia mandou seu capataz ir buscar Bia para uma visita em seu sítio onde lá conversaram, trocaram idéias sobre a situação do país e também sonbre as expectativas de um iminente casamento desua amiga com o jovem estudante de medicina. 

O tempo foi passando e o amor do casal só aumentava a pnto de marcarem o noivado que foi tudo muito simples na casa de Beatriz com a presença de Joia , Simone e também do amigo Augusto que a estas alturas já aprovava o relacionamento do amigo com a plebeia Beatriz da Silva.

Dona Sergia, por incrível que pareça, não se opôs ao noivado do filho e o seu pai, o velho Sebastião nem se manifestou. A vida do velho era bares, bebidas, farras.

No mês de outubro, em uma visita  à família da jovem Bia, o assunto casamento foi a pauta da noite.

- Você não acha muito cedo, rapaz? - questionou o pai da moça!

- Não, Seu Bento! - Sua filha e eu nos amamos e temos certeza que é isso que queremos; construir uma família juntos, quem sabe na capital, pois estou me formando em medicina e é lá que pretendo abrir minha clínica.

- Então meu pai, minha mãe e família! - Eu quero muito me unir a Ângelo, o amor da minha vida e  não vejo motivos para adiar este casamento.

- A vida é de vocês . Se estão com tanta certeza assim, tem a nossa bênção.- Disse o pai, Seo Tião.

E assim marcaram o casamento para o terceiro sábado de janeiro, do ano  seguinte 1970, tempos difíceis, de muita repressão, autoritarismo e extrema violância.


                       Tempos sombrios.


 O ano de 1969 estava terminando, o clima era de festas de fim de ano, apesar do clima de tensão, violência e ataques contra os movimentos sociais, estudantes, artistas, intelectuais. Os enfeites de Natal se viam por todos  os lados. Presépios eram montados na igreja , nas casas e até em praças públicas e jardins das casas.


Na  residência da família de Ângelo, apesar do clima de tristeza por conta do desaparecimento de um rapaz muito conhecido na cidade, o Alberto, um rapaz muito comunicativo, participava das missas, catequese, era amigo de Simone, mas mesmo assim, montavam um presépio com muitas latinhas com mudas de arroz que plantavam sempre com antecedência.

As imagens de Maria, José e dos reis magos, desta vez foram feitas por  João Pretinho , que tinha habilidade em esculturas de argila que retirava do riacho próximo à cidade. João pretinho era um menino que morava em um orfanato, que caiu nas graças de Simone que passou a levá-lo para a mansão dos belafontes onde passava a maior parte dos dias. A família passou a acolher o garoto que só não foi adotado porque Dona Sérgia não permitiu.

Ao ajeitar as estatuazinhas na mangedoura, Simone sentiu falta de ovelhinhas, vaquinhas, aves, enfim, dos bichos que fazia parte da mangedoura, no imaginário daquele povo.

- Mãe, O João pretinho esqueceu das ovelhas e outros bichos que fazem parte do presépio! - Onde ele está?

- Brincando no jardim.

- Ah, filha. Coloca os do ano passado. - respodeu Dona Sérgia.

- Mas mãe! - Aqueles não ornam , são de louça. Niso, chega o garoto.

 - Vamos , Pretinho buscar mais argila para fazer todos  os bichinhos todos de barro?

- Vamos sim, Dinda. - Sei onde tem bastante barro dos bons. O menino chamava Simone de madrinha. Ela era para ele, uma espécie de madrinha.

- E o menino Jesus? - Ficou bem feito?

 - Sim, mãe - ficou bem feito, mas achei ele tristinho. Maria e José também - estão com carinha de desânimo.

- É, pode ser que quando o João Pretinho  fez, estava pensando no Alberto. Coitado! - o que pode ter acontecido com ele? - Como algúém pode sumir assim?

- Seria coisa dos comunistas? - Indagou Dona Sérgia.

- A mãe dele acredita que ele  está vivo. 

- Coração de mãe não se engana. - Disse João Pretinho.

- Vamos lá no riacho, Dinda? - vamos buscar o barro?

- Vamos. Senão vai ficar muito tarde!

Já na rua, ouviram um barulho de música e percussão vindo da praça. Era uma antiga folia de Reis que todos os anos visitavam as casas das famílias e pediam donativos para fazerem a Grande Festa de Santos Reis que já tinham um local, desta vez. A sede da Fazenda Água Grande à convite do pai de Angelo.

Do outro lado da cidade, já na estrada da Juripoca, o clima na fazenda dos Vacarini, na casa da família de Augusto, tudo era saudades e preocupações. Augusto estava há mais de 30 dias sem dar notícias.

Dona Nair e familia ainda não tinham encontrado ânimo para festejar o Natal, nem com presépio, nem com enfeites, muito menos festas regadas à banquetes dignos do imperador romano, com faziam em anos anteriores.

- As notícias da capital não são das melhores. Universidades estão sendo invadidas por agentes do DOPS. - Será que Augusto anda envolvido com os comuinstas? - Indagou Bruno, seu cunhado.

- Já não basta o desaparecimento deste tal de Alberto, um rapaz que não fazia mal a ninguém, era do grupo de jovens da igreja, era querido por todos. - disse dona Nair.

Enquanto isso, na parte baixa da cidade, onde moravam os trabalhadores volantes - boias-frias,  ruas sem asfalto, cheias buracos causados pela enxurrada das chuvas de verão era só alegria .  Crianças brincavam na chuva fina, outros escorregavam na grama molhada, tudo era uma grande festa. Os mais velhos enchiam os botecos e as pequenas vendas onde  marcavam fiado, as compras de mercadorias a granel pesadas na balança em cima do balcão. As vendas  estavam cheias. A pinga rolava à solta.

Tudo respirava animação, festejos , felicidade, só não em uma família, a de Bia, Beatriz da Silva, a noiva de Ângelo. Dona Geni havia sofrido um acidente na cozinha pois a velha panela de pressão tinha explodido causando na pobre mulher, queimaduras de terceiro grau.

Seu pai, seu irmão e a irmã pequena ajudavam no que podiam, nos afazeres da casa e nos cuidados com a mãe, acamada enquanto se recuperava das queimaduras. O padreAfonso ia visitá-la de vez em quando e a  benzedeira Dona Luzia também a visitava para benzê-la e fazer umas compressas feitas de ervas medicinais.


O padre Afonso em uma destas visitas, convidou Bia para trabalhar na casa Paroquial ,onde faria limpeza, lavaria as roupas e ajudaria na ornamentação da igreja para que estivesse sempre limpa, com muitas flores e acolhedora.

Para isso pagaria um salário e as sobras de comida ela poderia trazer para sua família.

Como as difculdades da família havia piorado com a situação de sua mãe, Beatriz aceitou a proposta do padre. A esta altura, sua mãe já dava sinais de melhoras.

Ângelo, já de férias novamente, estava sempre dando um apoio à família da moça. O amor deles só aumentavae os preparativos para o casamento seguiam firmes.

Assim assam as festas de natal e do Ano novo. O ano de 1970 começou com  com muita perseguição aos jornalistas, censura,  tortura e muita violência policial nas ruas. O  toque de recolher era lei  no país inteiro, após as 10h00 da noite.  Uma série de proibições descabidas eram impostas em meio a muita expectativa da seleção brasileira na Copa do mundo no México. que se aproximava. O regime dos generais  havia chegado a seu ápice. Todos os estudantes, todos os jovens, todas as pessoas que fossem contra o regime eram taxadas de inimigos da nação, comunista e por isto eram torturados, ameaçados, mortos. Muitos artistas, intelectuais, ativistas de causas sociais como a reforma agrária, o combate a fome e a miséria que só aumentava, estas pessoas eram as comunistas,assim justificavam os castigos , a violência , o exílio e a morte. 

E neste clima de muita tensão e caos social chegou a  semana  do casamento de Beatriz e Ângelo.

O rapaz estava muito preocupado com o desaparecimento de seu melhor amigo Augusto e suspeitava que o mesmo havia sido preso pelo regime e que ele mesmo, poderia estar sendo procurado por participar de atos contra o governo, mas nã contava nada a ninguém. Nem mesmo para sua amada Beatriz. Naquela semana , uma caravan branca e verde rondava a cidade. Na terça-feira , a família de ângelo saiu para uma festa na fazenda e o rapaz foi com Beatriz à cidade vizinha comprar uns enxovais junto com Dona Joia. Zilu estava de folga, a casa ficou sem ninguém e um fato estranho aconteceu: Ao chegarem, perceberam que a casa havia sido invadida, estava toda revirada , todos os papeis e documentos de Ângelo estavam pelo chão, as gavetas dos armários abertas, mas nada de valor foi roubado, nem as joias de Dona Sérgia que ficavam em uma penteadeira, nem o cofre da mansão foi arrobado, enfim, todos estranharam muito tudo aquilo. Seo Sebastião estava decidido a fazer uma queixa na delegacia, mas Ângelo o convenceu a ficar calado e que ninguém devria comentar nada sobre o ocorrido, uma vez que nada de valor havia sido furtado.

Na véspera do casamento, sexta-feira a noite, Ângelo recebeu um recado de um estranho na rua que seu amigo Augusto estava escondido nas redondezas da cidade e que precisava muito falar com ele. O Bilhete terminava com um: 

-Toma muito cuidado, companheiro!

Ângelo resolveu fazer uma visita a sua noiva, chegou a pensar em contar o acontecido, mas não teve coragem.

Beatriz percebeu a angústia do noivo.

- Está tudo bem, meu amor! - estou te achando tão tenso!

- Está tudo bem, querida.

 - É apenas a tensão ou ansiedade de véspera do nosso dia mais feliz de nossas vidas.

A jovem o abraçou, deu muitos beijos no rapaz e o acalmou.


                     O Grande dia.




O desaparecimento de pessoas era comum naqueles tempos nebulosos, o exílio também. Porém havia muita resistência por parte de um grupo de estudantes mais ousados que não temiam dar a própria vida para a libertação do país daquele terrível regime. Muitos jornalistas, professores, músicos foram assassinados por lutarem a fovor dos mais pobres , por justiça social e eleições diretas , eram as principais vítimas do regime. As guerilhas também se organizavam pelo pais como uma forma de resitência , era a luta armada que também praticava assaltos a bancos, sequestros como forma de obter dinheiro para se fortalecerem cada vez mais. estes eram considerados terroristas e a ordem era matar quem fosse envolvido com guerilheiros.

As poucas Tvs, que tinham na cidade, nem mesmo as novelas eram poupadas da censura, os jornais só mostravam o que os ditadores autorizavam. O rádio também. O programa A vóz do País era sempre às 19h00 e só apresentava notícias de interesse do regime. Uma das novelas mais populares era Irmãos Coragem, de janete Clair, a proncipal auto de novelas da época.

Nas ruas, bares, praças, ninguém falava  mal do reguime ou comentava  sobre os desaparecimentos, sobre a vilência da polícia, sobre as prisões arbitrárias. Estava proibido fazer rodinhas de conversa e havia infiltrados do regime por todos os lados.

Nas escolas, onde os jovens acreditavam que tinham mais liberdade para conversar sobre aquela conjuntura política, também haviam infiltrados. Pasmem! _-

Até os sermões dos padres nas igrejas eram censurados , a Igreja tinha que ser submissa ao regime e ai daqueles padres que comentassem qualquer crime ou ataque por parte dos jagunços do general.

O tempo foi passando, o regime cada vez mais sanguinário e o povo cada vez mais empobrecido. Os banqueiros e donos de multinacionais ficavam cada vez mais ricos e o pais ia se endividando ao construírem obras faraônicas com dinheiro emprestado dos imperialistas e a corupção implícita e protegida pela censura, impulsionava aonda mais a crise econômica e a dívida externa chegava nas alturas , era descomunal, impagável.

 

Na cidade de Vulcânia, por ser pequena e distante dos grandes centros , nem tudo afetava. Apenas a carestia e a exploração do trabaho dos boias-frias eram sentidos... Uma família toda, colhia café durante um dia e o que ganhavam, mal dava para comprar o mínimo para comer...

Neste contexto de autoritarismo e ausencia do Estado de Direito, as pessoas viviam amedrontadas e intimidadas na cidade de Vulcânia e em todo o país. O desaparecimento de Alberto e de outras pessoas continuava como um mistério e ninguém   podia comentar sobre o assunto.

A família de Alberto sofria calada e isto levou a mãe do rapaz adoecer dos nervos e o pai , desorientado passou a beber e arranjar encrencas nos botecos. Simone, a jovem irmã de Angelo que mesmo fragilizada e sofrendo, dava um grande apoio à a família do jovem desaparecido. Ângelo também. Chegaram a promover uma passeata de protesto exigindo da justiça , uma investigação séria, mas foram proibidos pela polícia que dispersou a todos com muita brutalidade.

 A fazenda Água Grande continuava produzindo muito café e algodão, gerando lucros cada vez mais alto, graças à honestidade e dedicação do capataz Chico Mulato, pois se dependesse de Sebastião Belafontes, o prejuizo seria certo.

Já a principal fazenda da família de Augusto, após seu distanciamento, passou a acumular prejuízos. O gado, por falta de cuidado passou a adoecer com a febre aftosa, a produção de leite e seus derivados despencou e as dívidas no banco só aumentavam. Já na década de 1970, um dos generais que comandavam o regime, implantou um programa de subsídios `agricultuta que tinha como lema: " Plante que o governo garante"

 O pai de Augusto, assim como diversos fazendeiros da região se empolgaram e fizeram financiamentos para investir na produção de suas terras, na tentativa de salvar suas fazendas da falência, mas na mudança de governo, tudo veio a desmoronar.

 As dívidas venceram, a colheita rendeu, mas os preços do café e do algodão, assim como do leite e carne bovina, despencaram no mercado exportador e os juros dos financiamentos feitos,  subiram demais , levando à falência muitos sitiantes e latifundiários. 

A situação só veio a piorar pois maioria das terras ficaram abandonadas, não havia condições para cultivo da terra e plantio de nova safra e assim muitas famílas tiveram que migrar para as cidades em um momento que os boias-frias também ficaram sem trabalho. 

A fome reinava, crianças morriam de desnutrição, pessoas adoeciam por não se alementarem como deviam , os postos de saúde viviam cheios, mas só atendiam quem tinha a tal carteirnha da previdência social, comprovando que contribuiam mensalmente. Aos pobres e desempregados só restava a caridade das pessoas e das entidades filantrópicas religiosas.

A Irmandade Benevolente da qual participava a mãe de Ângelo, vivia cheia de pessoas pedindo um kg de feijão, um arroz, um leite para as crianças, uma bolacha mas nem sempre conseguiam, pois após a doença da  fundadora. As doações cairam muito e a Prefeitura, alegando falta de recursos, deixou de contribuir com a entidade.

A família de Bia, continuava morando na periferia da cidade em rua de chão batido, com esgoto a céu aberto e muita falta de água potável e luz elétrica. 

 

O Natal se aproximava naqueles anos 70, era das discotecas. A era Disco e as pessoas, ao menos as mais abastadas só pensavam em dançar, dançar e dançar estimulados por uma novela de um importante canal de tv. Era o dance, dance, dance.....A ordem era " Abra as suas asas, solte as suas feras, caia na gandaia, entre nesta festa. Desde que não questinasse o regime , dançar, era permitido. Embalados pela onda das discotecas, a musica do país era deixada em segundo plano, era brega. Chique meso era curtir a música dos imperialistas. Donnna Summer, Bee gees, Olivia Newton John, Roberta Kelly , Tina Charles e bandas com Boney M., santa Esmeralda, entre outras ditavam o que era moda. E neste clima de falsa alegria ,nossa heroina Beatriz, a Bia desembarca na rodoviária da cidade para visitar a sua familia.

A cidade estava cheia de luzes de Natal e a igreja matris toda cheia de lâmpadas coloridas na fachada.

Ouvia-se por todos os lados o Noite Feliz e muitas outras rezas e novenas de Natal. No coreto da pracinha da igreja , algo chamava a atenção: depois de muito tempo o velho ermitão das montanhas deu o sinal de sua graça. O povo se juntava para ouvir suas profecias e devaneios. Bia resolveu parar por lá para também escutar o que o pai da mata tinha a dizer. 

De repente , todos começaram a gritar e correr sem rumo após ouvirem os estampidos de vários tiros em meio as árvores próximas ao coreto.

- Deus me defenda! - Gritou Bia, apavorada.

 Os homens do regime, desta vez, a cavalaria causou o terror na praça para que o povo

se dispersasse.

Eram tempos de Decreto Institucional do regime que proibia qualquer tipo de

ajuntamento de pessoas para qualquer tipo de conversa. Entre bombas de gás

lacrimogênio, tiros para cima e ameaça de jogar os cavalos em cima das pessoas, o que

para eles era um motim, acabou.

Bia caminhando às pressas já na avenida principal ouviu uma buzina e ao olhar viu que

era Joia, sua amiga, ou Dona Joia, como era conhecida dirigindo sua perua Rural Willys

- Calma, amiga! - Entra aqui, eu te deixo em casa!

- Eita! - Que Deus existe! - Você me salvou, minha amiga! - Saudade!

- Eu também, Bia! - Que surpresa boa!

Já a caminho da casa de Bia, Joia ia lembrando dos velhos tempos em que havia se

casado com o filho mais velho dos Vacarini mesmo contra a vontade dos pais dele.

Infelizmente o marido veio a falecer fazia pouco tempo em uma briga de boteco.

- Fiquei sabendo da tragédia, amiga. - Que pena! - Sei o quanto você o amava! -

Juntos enfrentaram a família dele e se casaram.

- - Você morava na fazenda Olho D’água?

- Então Beatriz. Vivemos todos estes anos lá mesmo, fazenda em que o pai

deixou para ele após muita encrenca.

- - O velho queria deserdá-lo e você sabe o motivo, né? - Velho racista!

- - Mas eu não guardo mágoas, nem rancor de ninguém. Deixo por conta da lei

do retorno.

- O que aqui fazemos, aqui pagamos.

- Colhemos somente o que plantamos neste mundo.

- Veja a situação dele hoje? - O velho está acabado, falido e virou cachaceiro dos

piores: aquele que é agressivo, acha que é o bonzão quando bebe e só arranja

tretas.

- - Perdeu o respeito que tinha quando era o segundo maior fazendeiro da região

e hoje vive apanhando que nem cachorros pelos botecos.

- - Juro que jamais desejei mal a ele, muito menos à família dele, embora tenham

me causado muitas humilhações quando eu e Lourenço nos apaixonamos.

- Conheço você minha Joia. Sei do seu bom coração - respondeu Bia, já em

frente sua casa.

- Entra minha amiga. - Minha família vai gostar de te ver.

- Fica para outro dia, querida! - temos muito a conversar sobre como anda sua

vida depois do desaparecimento de Ângelo.

- Sim, precisamos conversar muito mais.

- Que tal a gente se encontrar amanhã?

- Ótimo, Bia. Venho buscar você para conhecer minha casa na fazenda.

- Combinado! - Até lá e obrigado por ter me salvo daqueles abutres do regime.

 

 







                                                      Tempos sombrios


 

 

 

O ano de 1969 estava terminando, o clima era de festas de fim de ano. Os enfeites de Natal se viam por todos  os lados. Presépios eram montados na Matriz , nas casa e até em praçãs públicas e jardins das casa. 

Na  residência da família de Angelo, apesar do clima de tristeza por conta do desaparecimento do rapaz, a mãe e a iermão montavam um presépio com muitas latinhas de mudinhas de arroz que plantavam com antecedência. A s imagens de Maria, José e dos reis magos, desta vez foram feitas por  João Pretinho , que tinha habilidade em esculturas de argila que retirava do riacho próximo à cidade.  

Ao ajeitar as estatuazinhas na manjedoura, Simone sentiu falta de ovelhinhas, vaquinhas, aves.,  

- Mãe, O João pretinho esqueceu das ovelhas e outros bichos que fazem parte do presépio! 

- Ah, filha ....coloca os do ano passado.....- Mas mãe! - Aqueles não ornam - são de louça.....- vou agora na casa do Pretinho encomendar os bicchinhos todos de barro... 

- E o menino Jesus? - Ficou bem feito? - sim, mãe - ficou bem feito, mas achei ele tristinho.....Maria e José també - estão com carinha de desânimo........ 

- É, pode ser que quando o João fez, estava pensando no nosso Angelo que só Deus sabe o que aconteceu....- mas tenho fé em Deus - filha. 

- Nosso Angelo está vivo. - Coração de mãe não se engana. 

Nisso ouviram um barulho de música e percussão vindo da rua. Era uma antiga folia de Reis que todos os anos visitavam as casas das famílias e pediam donativos para fazerem a Grande Festa de Santos Reis que já tinham um local, desta vez. A sede da Fazenda Água Grande à convite do pai de Angelo. 

Do outro lado da cidade, já na estrada da Juripoca, o clima na fazenda dos ......, na casa da família de Augusto, tudo era tristeza e saudades... 

Dona ........e familia ainda não tinham encontrado ânimo para festejar o Natal, nem com presépio, nem com enfeites, muito menos festas regadas à banquetes dignos do imperador romano, com faziam em anos anteriores. 

Enquanto isso, na parte baixa da cidade, onde moravam ostrabalhadores volantes - boias-frias, as ruas sem asfalto, cheias buracos causados pela enxurrada das chuvas de verão eram só alegria - crianças brincavam na chuva fina, outros escorregavam na grama molhada, tudo era alegria. Os mais velhos enchiam os botecos e as pequenas vendas que marcavam as compras de mercadorias a granel pesadas na balança em cima do balcão, estavam cheias.....A pinga rolava à solta... 

Tudo respirava animação, festejos , felicidade, só não em uma família, a de Bia, Beatriz da Silva, a noiva abandonada no altar e que quase morreu de depressão - a pobrezinha ficou doente por muito tempo, não queria se alimentar....só chorava.... 

Seus pais e irmãos ajudaram no que podiam, o padre também, até benzedeiras..... 

Embora ela continue triste, nos últimos tempos tem demonstrado quere tocar a vida prá frente - conversou com o padre pedindo uma força para que a indicasse um convento - uma congregação que acitasse moças da idade dela: mais de 20 anos.  

O padre aconselhou Bia a passar uns tempos em um mosteiro como uma voluntária da oração....da ajuada com a preparação das refeições......na limpeza, nos cuidados com a horta e com o jardim. 

E assim o padre ....enviou a moçacom carta de recomendação  para o Convento das Irmãs Damianas que ficava na capital do país. 

Era o ano de 1968, ano sombrio com muita perseguição, morte e tortura ...muita violência policial nas ruas, toque de recolher no país inteiro, após as 10h00 da noite, uma série de proibições descabidas, enfim, a regime ditatorial havia chegado a seu ápice. Todos os estudantes, todos os jovens, todas as pessoas que fossem contra o regime eram taxadas de inimigos da nação, comunista e por isto eram torturados, ameaçados, mortos. Muitos artistas, intelectuais, ativistas de causas sociais como a reforma agrária, o combate a fome e a miséria que só aumentava, ah...estas pessoas eram as comunistas.....assim justificavam os castigos , a violência , a morte.... 

O desaparecimento de pessoas continuava....o exílio também. Porém havia muita resistência por parte de um grupo de estudantes mais ousados que não temiam dar a própria vida para a libertação do país daquele terrível regime...Muitos jornalistas, professores, músicos foram assassinados por lutarem a fovos dos mais pobres , as principais vítimas do regime.... 

As poucas Tvs, que tinham na cidade, nem mesmo as novelas eram poupadas da censura, os jornais só mostravam o que os ditadores autorizavam. O rádio também. O programa A vóz do País era sempre às 19h00 e só apresentava notícias de interesse do regime. 

Nas ruas, bares, praças, ninguém falava  mal do reguime ou comentava  sobre os desaparecimentos, sobre a vilência da polícia, sobre as prisões arbitrárias. Estava proibido fazer rodinhas de conversa....e havia infiltrados do regime por todos os lados...Nas escolas, onde os jovens acreditavam que tinham mais liberdade para conversar sobre aquela conjuntura política, também haviam infiltrados. Pasmem! _ Até os sermões dos padres nas igrejas eram censurados , a Igreja tinha que ser submissa ao regime e ai daqueles padres que comentassem qualquer crime ou ataque por parte dos jgunços do general. 

O tempo foi passando, o regime cada vez mais sanguinário e o povo cada vez mais empobrecido. Os banqueiros e donos de multinacionais ficavam cada vez mais ricos e o pais ia se endividando. 

 

Na cidade de Vulcânia, por ser pequena e distante dos grandes centros , nem tudo afetava. Apenas a carestia e a exploração do trabaho dos boias-frias eram sentidos... Uma família toda, colhia café durante um dia e o que ganhavam, mal dava para comprar o mínimo para comer... 

Neste contexto de autoritarismo e ausencia do Estado de Direito, as pessoas viviam amedrontadas e intimidadas na cidade de Vulcânia e em todo o país. O desaparecimento de Ângelo e seu amigo Augusto continuava como um mistério e as pessoas nem podiam comentar sobre o assunto. 

A família de Angelo sofria calada e isto levou a mãe do rapaz adoecer dos nervos e o pai , desorientado passou a beber e arranjar encrencas nos botecos. Simone, a jovem irmã de Angelo que mesmo fragilizada e sofrendo cuidava da mãe , já que do pai perdera o controle. A fazenda Água grande continuava produzindo muito café e algodão, gerando lucros cada vez mais altos, graças à honestidade e dedicação do capataz....... 

Já a fazenda .......da família de Augusto, após seu desaparecimento, passou a acumular prejuízos. O gado, por falta de cuidado passou a adoecer com a febre aftosa, a produção de leite e seus derivados despencou e as dívidas no banco só aumentavam. Já na década de 1970, um dos generais que comandavam o regime, implantou um programa de subsídios `agriculyuta que tinha como lema: " Plante que o governo garante" O pai de Augusto, assim como diversos fazendeiros da região se empolgaram e fizeram financiamentos para investir na produção de suas terras, na tentativa de salvar suas fazendas da falência, mas na mudança de governo, tudo veio a desmoronar. As dívidas venceram, a colheita rendeu, mas os preços do café e do algodão, assim como do leite e carne bovina, despencaram no mercado exportador e os juros dos financiamentos feitos subiram, levando à falência muitos sitiantes e latifundiários.  

A situação só veio a piorar pois maioria das terras ficaram abandonadas, não havia condições para cultivo da terra e plantio de nova safra e assim muitas famílas tiveram que migrar para as cidades em um momento que os boias-frias também ficaram sem trabalho.  

A fome reinava, crianças morriam de desnutrição, pessoas adoeciam por não se alementarem como deviam , os postos de saúde viviam cheios, mas só atendiam quem tinha a tal carteirnha da previdência social, comprovando que contribuiam mensalmente. Aos pobres e desempregados só restava a caridade das pessoas e das entidades filantrópicas religiosas. 

A Irmandade....da qual participava a ....mãe de ângelo, vivia cheia de pessoas pedindo um kg de feijão, um arroz, um leite para as crianças, uma bolacha......mas nem sempre conseguiam, pois após a doença da  fundadora,......as doações cairam muito e a Prefeitura, alegando falta de recursos, deixou de contribuir com a entidade. 

A família de Bia, continuava morando na periferia da cidade em rua de cão batido, com esgoto a céu aberto e muita falta de água potável e luz elétrica.  

 A moça que vivia no Convento da Irmãs Damiana, sempre que podia ,vinha visistar a família e trazia algum alimento que sobrava no convento. Bia trabalhava na cozinha onde ajudava a prepara as refeições das freiras e também cuidava da horta e da pequena criação de cabras que forneciam o saboroso leite servido no café da manhã no convento. Como ela tinha onde dormir, comida e roupas, ( uniformes) ela ganhava um salário muito baixo, o que envuava para sua mãe para comprar o mínimo necessário para sua família sobreviver. Um dos irmão de Bia, o Beto, de 14 anos colocou na cabeça que não ia parar os estudos ainda no primário para ajudar na roça, trabalhando de boia fria e assim insistiu em estudar o segundo grau na cidade de candeias , a quase 100 km de distância porque em Vulcânia só tinha escola de primário e isto gerava despesas com uniforme , livros e transporte. Bia ajudava como podia, já que eela mesma nem conseguiu terminar o primário. Precisou para os estudos na sétima série por ter ajudar seus pais a criar os irmão mais novos. 

O Natal se aproximavanaqueles anos 70, era das discotecas. A era Disco e as pessoas, ao menos as mais abastadas só pensavam em dançar, dançar e dançar estimulados por uma novela de um importante canal de tv. Era o dance, dance, dance.....A ordem era " Abra as suas asas, solte as suas feras, caia na gandaia, entre nesta festa. Desde que não questinasse o regime , dançar, era permitido. Embalados pela onda das discotecas, a musica do país era deixada em segundo plano, era brega. Chique meso era curtir a música dos imperialistas. Donnna Summer, Bee gees, Olivia Newton John, Roberta Kelly , Tina Charles e bandas com Boney M., santa Esmeralda, entre outras ditavam o que era moda. E neste clima de falsa alegria ,nossa heroina Beatriz, a Bia desembarca na rodoviária da cidade para visitar a sua familia. 

A cidade estava cheia de luzes de Natal e a igreja matris toda cheia de lâmpadas coloridas na fachada. 

Ouvia-se por todos os lados o Noite Feliz e muitas outras rezas e novenas de Natal. No coreto da pracinha da igreja , algo chamava a atenção: depois de muito tempo o velho ermitão das montanhas deu o sinal de sua graça. O povo se juntava para ouvir suas profecias e devaneios. Bia resolveu parar por lá para também escutar o que o pai da mata tinha a dizer.  

De repente , todos começaram a gritar e correr sem rumo após ouvirem os estampidos de vários tiros em meio as árvores próximas ao coreto. 

- Deus me defenda! - Gritou Bia, apavorada. 



 E foi neste “ salve-se quem puder” que nossa heroína em fuga na direção da casa de seus pais encontrou Dona Joia que ofereceu uma carona para ela: 

- Entra aqui Beatriz . Te dou uma carona até sua casa – estas ruas estão cada vez mais perigosas com este esquadrão da morte rondando. 

_ Obrigado minha amiga! – Ah quanto tempo heim? – Cmo está você? – Fiquei sabendo do falecimento do seu marido......Meus sentimentos .....é muito triste! 

- É   ...triste mesmo! E você, Bia. Como está você?  - Onde mesmo você está morando?  Nenhuma notícia do Ângelo? – Nem do Guto? 

-  Então amiga! – Muitas perguntas, poucas respostas.. 

_ Estou levando a vida na medida do possível..... 

- Qual é mesmo o seu telefone?  - Amanhã eu ligo para você para a gente conversar – vou ficar uns dias por aqui..... 

- Melhor você ir na minha casa – respondeu Joia. – Não é mais confiável conversar por telefone. Estão todos grampeados pelo governo miserável.....autoritário....fascista. 

- Fascista?    - O que significa mesmo? – Deixa pra lá amiga, você está certa. Estarei na sua casa antes do meio dia.....-você mora no mesmo endereço? 

- Fica tranquila, Bia – é longinho.....o sol anda muito forte.  

_ Eu venho te buscar.... 

 

Nisso já estavam em frente a casa de Bia, a mão dela já no portão ansiosa para ver a filha: - Eita minha filha. – Pensei que não chegava mais.....escutamos tiros ...ficamos preocupados.....- Quem é que te trouxe? 

- É a Joia, mainha, lembra dela? – Bença, mãe! 

Deus te abençoe, minha filha....- respondeu abraçando-a com afeto. 

- Entra, Joia, venha tomar um café fresco – acabei de passar... 

_ Obrigado dona Dita, fica para outro mdia. 

- Até mais , Bia...até amanhã.. 

Tchal amiga......Muito obrigado pela carona....Até amanhã! 

 

assim , Bia foi se reunindo com sua família e já contando o que aconteceu na pracinha da cidade. 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

O ano de 1967 estava terminando, o clima era de festas de fim de ano. Os enfeites de Natal se viam por todos os lados. Presépios eram montados na Matriz na casa e até em praças públicas e jardins da casa. 

Na residência da família de Ângelo, apesar do clima de tristeza por conta do desaparecimento do rapaz, a mãe e a irmã montavam um presépio com muitas latinhas de mudinhas de arroz que plantavam com antecedência. As imagens de Maria, José e dos reis magos, desta vez foram feitas por João Pretinho que tinha habilidade em esculturas de argila que retirava do riacho próximo à cidade.  

Ao ajeitar as estatuazinhas na manjedoura, Simone sentiu falta de ovelhinhas, vaquinhas, aves.,  

- Mãe, O João pretinho esqueceu das ovelhas e outros bichos que fazem parte do presépio! 

- Ah, filha coloca os do ano passado - Mas mãe! - Aqueles não ornam - são de louça - vou agora na casa do Pretinho encomendar os bichinhos todos de barro... 

- E o menino Jesus? - Ficou bem feito? - sim, mãe - ficou bem feito, mas achei ele tristinhoMaria e José também - estão com carinha de desânimo. 

- É, pode ser que quando o João fez, estava pensando no nosso Ângelo que só Deus sabe o que aconteceu, mas tenho fé em Deus - filha. 

- Nosso Ângelo está vivo. - Coração de mãe não se engana. 

Nisso ouviram um barulho de música e percussão vindo da rua. Era uma antiga folia de Reis que todos os anos visitavam as casas das famílias e pediam donativos para fazerem a Grande Festa de Santos Reis que já tinham um local, desta vez. A sede da Fazenda Água Grande à convite do pai de Ângelo. 

Do outro lado da cidade, já na estrada da Jiripoca, o clima na fazenda dos ......, na casa da família de Augusto, tudo era tristeza e saudades... 

Dona ........e família ainda não tinham encontrado ânimo para festejar o Natal, nem com presépio, nem com enfeites, muito menos festas regadas à banquetes dignos do imperador romano, com faziam em anos anteriores. 

Enquanto isso, na parte baixa da cidade, onde moravam os trabalhadores volantes - boias-frias, as ruas sem asfalto, cheias buracos causados pela enxurrada das chuvas de verão eram só alegria - crianças brincavam na chuva fina, outros escorregavam na grama molhada, tudo era alegria. Os mais velhos enchiam os botecos e as pequenas vendas que marcavam as compras de mercadorias a granel pesadas na balança em cima do balcão, estavam cheias. 

A pinga rolava à solta... 

Tudo respirava animação, festejosfelicidade, só não em uma família, a de Bia, Beatriz da Silva, a noiva abandonada no altar e que quase morreu de depressão - a pobrezinha ficou doente por muito tempo, não queria se alimentar - só chorava. 

Seus pais e irmãos ajudaram no que podiam, o padre também, até benzedeiras. 

Embora ela continue triste, nos últimos tempos tem demonstrado quere tocar a vida pra frente - conversou com o padre pedindo uma força para que a indicasse um convento - uma congregação que aceitasse moças da idade dela: mais de 20 anos.  

O padre aconselhou Bia a passar uns tempos em um mosteiro como uma voluntária da oração ajudada com a preparação das refeições......na limpeza, nos cuidados com a horta e com o jardim. 

E assim o padre enviou a moça com carta de recomendação para o Convento das Irmãs Damianas que ficava na capital do país. 

Era o ano de 1968, ano sombrio com muita perseguição, morte e tortura ...muita violência policial nas ruas, toque de recolher no país inteiro, após as 10h00 da noite, uma série de proibições descabidas, enfim, a regime ditatorial havia chegado a seu ápice. Todos os estudantes, todos os jovens, todas as pessoas que fossem contra o regime eram taxadas de inimigos da nação, comunista e por isto eram torturados, ameaçados, mortos. 

 Muitos artistas, intelectuais, ativistas de causas sociais como a reforma agrária, o combate à fome e a miséria que só aumentava, ah...estas pessoas eram as comunistas - assim justificavam os castigosa violênciaa torturaa morte.... 

O desaparecimento de pessoas continuava o exílio também. Porém havia muita resistência por parte de um grupo de estudantes mais ousados que não temiam dar a própria vida para a libertação do país daquele terrível regime. Muitos jornalistas, professores, músicos foram assassinados por lutarem a favor dos mais pobrescontra a exploração e especulação da terra, enfim, como sempre eram as principais vítimas do regime. 

As poucas Tvs, que tinham na cidade, nem mesmo as novelas eram poupadas da censura, os jornais só mostravam o que os ditadores autorizavam. O rádio também. O programa A voz do País era sempre às 19h00 e só apresentava notícias de interesse do regime. 

Nas ruas, bares, praças, ninguém falava mal do regime ou comentava sobre os desaparecimentos, sobre a violência da polícia, sobre as prisões arbitrárias. Estava proibido fazer rodinhas de conversa – haviainfiltrados do regime por todos os lados. 

Nas escolas, onde os jovens acreditavam que tinham mais liberdade para conversar sobre aquela conjuntura política, também haviam infiltrados. Pasmem!  Até os sermões dos padres nas igrejas eram censurados, a Igreja tinha que ser submissa ao regime e ai daqueles padres que comentassem qualquer crime ou ataque por parte dos jagunços do general. 

O tempo foi passando, o regime cada vez mais sanguinário e o povo cada vez mais empobrecido. Os banqueiros e donos de multinacionais ficavam cada vez mais ricos e o país ia se endividando. 

 

 

Na cidade de Vulcânica, por ser pequena e distante dos grandes centros, nem tudo afetava. Apenas a carestia e a exploração do trabalho dos boias-frias eram sentidas... Uma família toda, colhia café durante um dia e o que ganhavam, mal dava para comprar o mínimo para comer... 

Neste contexto de autoritarismo e ausência do Estado de Direito, as pessoas viviam amedrontadas e intimidadas na cidade de Vulcânica e em todo o país. O desaparecimento de Ângelo e seu amigo Augusto continuava como um mistério e as pessoas nem podiam comentar sobre o assunto. 

A família de Ângelo sofria calada e isto levou a mãe do rapaz adoecer dos nervos e o pai, desorientado passou a beber e arranjar encrencas nos botecos. Simone, a jovem irmã de Ângelo que mesmo fragilizada e sofrendo cuidava da mãe, já que do pai perdera o controle. A fazenda Água grande continuava produzindo muito café e algodão, gerando lucros cada vez mais altos, graças à honestidade e dedicação do capataz....... 

Já a fazenda .......da família de Augusto, após seu desaparecimento, passou a acumular prejuízos. O gado, por falta de cuidado passou a adoecer com a febre aftosa, a produção de leite e seus derivados despencou e as dívidas no banco só aumentavam. Já na década de 1970, um dos generais que comandavam o regime, implantou um programa de subsídios `agricultura que tinha como lema: " Plante que o governo garante" O pai de Augusto, assim como diversos fazendeiros da região se empolgaram e fizeram financiamentos para investir na produção de suas terras, na tentativa de salvar suas fazendas da falência, mas na mudança de governo, tudo veio a desmoronar. As dívidas venceram, a colheita rendeu, mas os preços do café e do algodão, assim como do leite e carne bovina, despencaram no mercado exportador e os juros dos financiamentos feitos subiram, levando à falência muitos sitiantes e latifundiários.  

A situação só veio a piorar pois maioria das terras ficaram abandonadas, não havia condições para cultivo da terra e plantio de nova safra e assim muitas famílias tiveram que migrar para as cidades em um momento que os boias-frias também ficaram sem trabalho.  

A fome reinava, crianças morriam de desnutrição, pessoas adoeciam por não se alimentarem como deviam, os postos de saúde viviam cheios, mas só atendiam quem tinha a tal carteirinha da previdência social, comprovando que contribuíam mensalmente. Aos pobres e desempregados só restava a caridade das pessoas e das entidades filantrópicas religiosas. 

A Irmandade da qual participava a mãe de Ângelo, vivia cheia de pessoas pedindo um kg de feijão, um arroz, um leite para as crianças, uma bolacha, mas nem sempre conseguiam, pois após a doença da fundadora, as doações caíram muito e a Prefeitura, alegando falta de recursos, deixou de contribuir com a entidade. 

A família de Bia, continuava morando na periferia da cidade em rua de cão batido, com esgoto a céu aberto e muita falta de água potável e luz elétrica.  

 A moça que vivia no Convento da Irmãs Damiana, sempre que podia, vinha visitar a família e trazia algum alimento que sobrava no convento. Bia trabalhava na cozinha onde ajudava a preparar as refeições das freiras e cuidava da horta e da pequena criação de cabras que forneciam o saboroso leite servido no café da manhã no convento. Como ela tinha onde dormir, comida e roupas, (uniformes) ela ganhava um salário muito baixo, o que enviava para sua mãe para comprar o mínimo necessário para sua família sobreviver. Um dos irmãos de Bia, o Beto, de 14 anos colocou na cabeça que não ia parar os estudos ainda no primário para ajudar na roça, trabalhando de boia fria e assim insistiu em estudar o segundo grau na cidade de candeias, a quase 100 km de distância porque em Vulcânica só tinha escola de primário e isto gerava despesas com uniforme, livros e transporte. Bia ajudava como podia, já que ela mesma nem conseguiu terminar o primário. Precisou para os estudos na sétima série por ter de ajudar seus pais a criar os irmãos mais novos. 

O Natal se aproximava naqueles anos 70, era das discotecas. A era Disco e as pessoas, ao menos as mais abastadas só pensavam em dançar, dançar e dançar estimulados por uma novela de um importante canal de tv. Era o dance, dance, dance. 

A ordem era " Abra as suas asas, solte as suas feras, caia na gandaia, entre nesta festa. Desde que não questionasse o regime, dançar, era permitido. Embalados pela onda das discotecas, a música do país era deixada em segundo plano, era brega. Chique mesmo era apreciar a música dos imperialistas. Donna Summer, Bee Gees, Olivia Newton John, Roberta KellyTina Charles e bandas com Boney M., santa Esmeralda, entre outras ditavam o que era moda. E neste clima de falsa alegria, nossa heroína Beatriz, a Bia desembarca na rodoviária da cidade para visitar a sua família. 

A cidade estava cheia de luzes de Natal e a igreja matriz toda cheia de lâmpadas coloridas na fachada. 

Ouvia-se por todos os lados o Noite Feliz e muitas outras rezas e novenas de Natal. No coreto da pracinha da igreja, algo chamava a atenção: depois de muito tempo o velho ermitão das montanhas deu o sinal de sua graça. O povo se juntava para ouvir suas profecias e devaneios. Bia resolveu parar por lá para também escutar o que o pai da mata tinha a dizer.  

De repente todos começaram a gritar e correr sem rumo após ouvirem os estampidos de vários tiros em meio as árvores próximas ao coreto. 

- Deus me defenda! - Gritou Bia, apavorada. 

 

O ano de 1967 estava terminando, o clima era de festas de fim de ano. Os enfeites de Natal se viam por todos  os lados. Presépios eram montados na Matriz , nas casa e até em praçãs públicas e jardins das casa. 

Na  residência da família de Angelo, apesar do clima de tristeza por conta do desaparecimento do rapaz, a mãe e a iermão montavam um presépio com muitas latinhas de mudinhas de arroz que plantavam com antecedência. A s imagens de Maria, José e dos reis magos, desta vez foram feitas por  João Pretinho , que tinha habilidade em esculturas de argila que retirava do riacho próximo à cidade.  

Ao ajeitar as estatuazinhas na mangedoura, Simone sentiu falta de ovelhinhas, vaquinhas, aves.,  

- Mãe, O João pretinho esqueceu das ovelhas e outros bichos que fazem parte do presépio! 

- Ah, filha ....coloca os do ano passado.....- Mas mãe! - Aqueles não ornam - são de louça.....- vou agora na casa do Pretinho encomendar os bicchinhos todos de barro... 

- E o menino Jesus? - Ficou bem feito? - sim, mãe - ficou bem feito, mas achei ele tristinho.....Maria e José també - estão com carinha de desânimo........ 

- É, pode ser que quando o João fez, estava pensando no nosso Angelo que só Deus sabe o que aconteceu....- mas tenho fé em Deus - filha. 

- Nosso Angelo está vivo. - Coração de mãe não se engana. 

Nisso ouviram um barulho de música e percussão vindo da rua. Era uma antiga folia de Reis que todos os anos visitavam as casas das famílias e pediam donativos para fazerem a Grande Festa de Santos Reis que já tinham um local, desta vez. A sede da Fazenda Água Grande à convite do pai de Angelo. 

Do outro lado da cidade, já na estrada da Juripoca, o clima na fazenda dos ......, na casa da família de Augusto, tudo era tristeza e saudades... 

Dona ........e familia ainda não tinham encontrado ânimo para festejar o Natal, nem com presépio, nem com enfeites, muito menos festas regadas à banquetes dignos do imperador romano, com faziam em anos anteriores. 

Enquanto isso, na parte baixa da cidade, onde moravam ostrabalhadores volantes - boias-frias, as ruas sem asfalto, cheias buracos causados pela enxurrada das chuvas de verão eram só alegria - crianças brincavam na chuva fina, outros escorregavam na grama molhada, tudo era alegria. Os mais velhos enchiam os botecos e as pequenas vendas que marcavam as compras de mercadorias a granel pesadas na balança em cima do balcão, estavam cheias.....A pinga rolava à solta... 

Tudo respirava animação, festejos , felicidade, só não em uma família, a de Bia, Beatriz da Silva, a noiva abandonada no altar e que quase morreu de depressão - a pobrezinha ficou doente por muito tempo, não queria se alimentar....só chorava.... 

Seus pais e irmãos ajudaram no que podiam, o padre também, até benzedeiras..... 

Embora ela continue triste, nos últimos tempos tem demonstrado quere tocar a vida prá frente - conversou com o padre pedindo uma força para que a indicasse um convento - uma congregação que acitasse moças da idade dela: mais de 20 anos.  

O padre aconselhou Bia a passar uns tempos em um mosteiro como uma voluntária da oração....da ajuada com a preparação das refeições......na limpeza, nos cuidados com a horta e com o jardim. 

E assim o padre ....enviou a moçacom carta de recomendação  para o Convento das Irmãs Damianas que ficava na capital do país. 

Era o ano de 1968, ano sombrio com muita perseguição, morte e tortura ...muita violência policial nas ruas, toque de recolher no país inteiro, após as 10h00 da noite, uma série de proibições descabidas, enfim, a regime ditatorial havia chegado a seu ápice. Todos os estudantes, todos os jovens, todas as pessoas que fossem contra o regime eram taxadas de inimigos da nação, comunista e por isto eram torturados, ameaçados, mortos. Muitos artistas, intelectuais, ativistas de causas sociais como a reforma agrária, o combate a fome e a miséria que só aumentava, ah...estas pessoas eram as comunistas.....assim justificavam os castigos , a violência , a morte.... 

O desaparecimento de pessoas continuava....o exílio também. Porém havia muita resistência por parte de um grupo de estudantes mais ousados que não temiam dar a própria vida para a libertação do país daquele terrível regime...Muitos jornalistas, professores, músicos foram assassinados por lutarem a fovos dos mais pobres , as principais vítimas do regime.... 

As poucas Tvs, que tinham na cidade, nem mesmo as novelas eram poupadas da censura, os jornais só mostravam o que os ditadores autorizavam. O rádio também. O programa A vóz do País era sempre às 19h00 e só apresentava notícias de interesse do regime. 

Nas ruas, bares, praças, ninguém falava  mal do reguime ou comentava  sobre os desaparecimentos, sobre a vilência da polícia, sobre as prisões arbitrárias. Estava proibido fazer rodinhas de conversa....e havia infiltrados do regime por todos os lados...Nas escolas, onde os jovens acreditavam que tinham mais liberdade para conversar sobre aquela conjuntura política, também haviam infiltrados. Pasmem! _ Até os sermões dos padres nas igrejas eram censurados , a Igreja tinha que ser submissa ao regime e ai daqueles padres que comentassem qualquer crime ou ataque por parte dos jgunços do general. 

O tempo foi passando, o regime cada vez mais sanguinário e o povo cada vez mais empobrecido. Os banqueiros e donos de multinacionais ficavam cada vez mais ricos e o pais ia se endividando. 

 

Na cidade de Vulcânia, por ser pequena e distante dos grandes centros , nem tudo afetava. Apenas a carestia e a exploração do trabaho dos boias-frias eram sentidos... Uma família toda, colhia café durante um dia e o que ganhavam, mal dava para comprar o mínimo para comer... 

Neste contexto de autoritarismo e ausencia do Estado de Direito, as pessoas viviam amedrontadas e intimidadas na cidade de Vulcânia e em todo o país. O desaparecimento de Ângelo e seu amigo Augusto continuava como um mistério e as pessoas nem podiam comentar sobre o assunto. 

A família de Angelo sofria calada e isto levou a mãe do rapaz adoecer dos nervos e o pai , desorientado passou a beber e arranjar encrencas nos botecos. Simone, a jovem irmã de Angelo que mesmo fragilizada e sofrendo cuidava da mãe , já que do pai perdera o controle. A fazenda Água grande continuava produzindo muito café e algodão, gerando lucros cada vez mais altos, graças à honestidade e dedicação do capataz....... 

Já a fazenda .......da família de Augusto, após seu desaparecimento, passou a acumular prejuízos. O gado, por falta de cuidado passou a adoecer com a febre aftosa, a produção de leite e seus derivados despencou e as dívidas no banco só aumentavam. Já na década de 1970, um dos generais que comandavam o regime, implantou um programa de subsídios `agriculyuta que tinha como lema: " Plante que o governo garante" O pai de Augusto, assim como diversos fazendeiros da região se empolgaram e fizeram financiamentos para investir na produção de suas terras, na tentativa de salvar suas fazendas da falência, mas na mudança de governo, tudo veio a desmoronar. As dívidas venceram, a colheita rendeu, mas os preços do café e do algodão, assim como do leite e carne bovina, despencaram no mercado exportador e os juros dos financiamentos feitos subiram, levando à falência muitos sitiantes e latifundiários.  

A situação só veio a piorar pois maioria das terras ficaram abandonadas, não havia condições para cultivo da terra e plantio de nova safra e assim muitas famílas tiveram que migrar para as cidades em um momento que os boias-frias também ficaram sem trabalho.  

A fome reinava, crianças morriam de desnutrição, pessoas adoeciam por não se alementarem como deviam , os postos de saúde viviam cheios, mas só atendiam quem tinha a tal carteirnha da previdência social, comprovando que contribuiam mensalmente. Aos pobres e desempregados só restava a caridade das pessoas e das entidades filantrópicas religiosas. 

A Irmandade....da qual participava a ....mãe de ângelo, vivia cheia de pessoas pedindo um kg de feijão, um arroz, um leite para as crianças, uma bolacha......mas nem sempre conseguiam, pois após a doença da  fundadora,......as doações cairam muito e a Prefeitura, alegando falta de recursos, deixou de contribuir com a entidade. 

A família de Bia, continuava morando na periferia da cidade em rua de cão batido, com esgoto a céu aberto e muita falta de água potável e luz elétrica.  

 A moça que vivia no Convento da Irmãs Damiana, sempre que podia ,vinha visistar a família e trazia algum alimento que sobrava no convento. Bia trabalhava na cozinha onde ajudava a prepara as refeições das freiras e também cuidava da horta e da pequena criação de cabras que forneciam o saboroso leite servido no café da manhã no convento. Como ela tinha onde dormir, comida e roupas, ( uniformes) ela ganhava um salário muito baixo, o que envuava para sua mãe para comprar o mínimo necessário para sua família sobreviver. Um dos irmão de Bia, o Beto, de 14 anos colocou na cabeça que não ia parar os estudos ainda no primário para ajudar na roça, trabalhando de boia fria e assim insistiu em estudar o segundo grau na cidade de candeias , a quase 100 km de distância porque em Vulcânia só tinha escola de primário e isto gerava despesas com uniforme , livros e transporte. Bia ajudava como podia, já que eela mesma nem conseguiu terminar o primário. Precisou para os estudos na sétima série por ter ajudar seus pais a criar os irmão mais novos. 

O Natal se aproximavanaqueles anos 70, era das discotecas. A era Disco e as pessoas, ao menos as mais abastadas só pensavam em dançar, dançar e dançar estimulados por uma novela de um importante canal de tv. Era o dance, dance, dance.....A ordem era " Abra as suas asas, solte as suas feras, caia na gandaia, entre nesta festa. Desde que não questinasse o regime , dançar, era permitido. Embalados pela onda das discotecas, a musica do país era deixada em segundo plano, era brega. Chique meso era curtir a música dos imperialistas. Donnna Summer, Bee gees, Olivia Newton John, Roberta Kelly , Tina Charles e bandas com Boney M., santa Esmeralda, entre outras ditavam o que era moda. E neste clima de falsa alegria ,nossa heroina Beatriz, a Bia desembarca na rodoviária da cidade para visitar a sua familia. 

A cidade estava cheia de luzes de Natal e a igreja matris toda cheia de lâmpadas coloridas na fachada. 

Ouvia-se por todos os lados o Noite Feliz e muitas outras rezas e novenas de Natal. No coreto da pracinha da igreja , algo chamava a atenção: depois de muito tempo o velho ermitão das montanhas deu o sinal de sua graça. O povo se juntava para ouvir suas profecias e devaneios. Bia resolveu parar por lá para também escutar o que o pai da mata tinha a dizer.  

De repente , todos começaram a gritar e correr sem rumo após ouvirem os estampidos de vários tiros em meio as árvores próximas ao coreto. 

- Deus me defenda!

 

Eram os homens da polícia do governo fazendo valer a lei da não “ rodinhas de pessoas”. Os tiros eram para cima, mas sem alguém ousasse enfrentar os homens, seria abatido alí mesmo diante de todos ou arrastado que nem um pedaço de madeira podre até os matagais nas redondezas da cidade e ali eram violentados, torturados e mortos da forma mais cruel possível. 


E foi neste “ salve-se quem puder” que nossa heroína em fuga na direção da casa de seus pais encontrou Dona Joia que ofereceu uma carona para ela: 

- Entra aqui Beatriz . Te dou uma carona até sua casa – estas ruas estão cada vez mais perigosas com este esquadrão da morte rondando. 

_ Obrigado minha amiga! – Ah quanto tempo heim? – Cmo está você? – Fiquei sabendo do falecimento do seu marido......Meus sentimentos .....é muito triste! 

- É   ...triste mesmo! E você, Bia. Como está você?  - Onde mesmo você está morando?  Nenhuma notícia do Ângelo? – Nem do Guto? 

-  Então amiga! – Muitas perguntas, poucas respostas.. 

_ Estou levando a vida na medida do possível..... 

- Qual é mesmo o seu telefone?  - Amanhã eu ligo para você para a gente conversar – vou ficar uns dias por aqui..... 

- Melhor você ir na minha casa – respondeu Joia. – Não é mais confiável conversar por telefone. Estão todos grampeados pelo governo miserável.....autoritário....fascista. 

- Fascista?    - O que significa mesmo? – Deixa pra lá amiga, você está certa. Estarei na sua casa antes do meio dia.....-você mora no mesmo endereço? 

- Fica tranquila, Bia – é longinho.....o sol anda muito forte.  

_ Eu venho te buscar.... 

 

Nisso já estavam em frente a casa de Bia, a mão dela já no portão ansiosa para ver a filha: - Eita minha filha. – Pensei que não chegava mais.....escutamos tiros ...ficamos preocupados.....- Quem é que te trouxe? 

- É a Joia, mainha, lembra dela? – Bença, mãe! 

Deus te abençoe, minha filha....- respondeu abraçando-a com afeto. 

- Entra, Joia, venha tomar um café fresco – acabei de passar... 

_ Obrigado dona Dita, fica para outro mdia. 

- Até mais , Bia...até amanhã.. 

Tchal amiga......Muito obrigado pela carona....Até amanhã! 

 

assim , Bia foi se reunindo com sua família e já contando o que aconteceu na pracinha da cidade. 

 



 


 No dia seguinte, por volta de 11h00 da manhã Jóia chega até a casa de Bia para levá-la até sua cas pcomo haviam combinado. A mãe de Bia a convidou para entrar, tomar um café e assim a jovem viúva o fez. Conversou um pouco, falou da situaçõ difícil em que o país se encontrava , ofereceu ajuda à familia de Bia, caso precisasse. 

- As coisas estão difíceis para todos , mas dou graçãs a Deus por meu falecido Lourenço. - Era tão novo ainda, para mim era o melhor homem do mundo, sempre carinhoso, amável.......( lágrimas começaram a molharem suas negras faces)

- Fica assim não companheira amiga. - Deus proverá. 

Falaram  juntas Bia e sua mãe, abraçando a velha amiga de todas as horas.

E assim, mais tarde , Beatriz  sencontra-se na casa de joia à mesa do almoço. Jpoia, embora tenha ficado com a fazenda que era do marido e mais alguns imóveis de aluguel em Candeias, cidade maior da região, não ostentava luxos. Não tinha empregada. Tinha apenas uma família de empregados mais antigos que cuidavam do gado leiteiro, da pequena criação de porcos e galinhas. E também, as vezes davam uma ajuda nos afazeres domésticos e limpeza da casa grande, a residência de Dona Joia.

- E então Beatriz, como está sua vida? - Me conta! - Você está naquele convento a trabalho, a paseio ou quer mesmo ser freira?

- Passeio ?-  Riu a moça- estou lá a quase dois anos. Em princípio eu tinha a iluisão que seria freira sim, iria ser noiva de Jesus, de mais ninguém. - Mas acabei me convencendo que mesm com ANgelo desaparecido há muitos anos, eu ainda tenho esperança que esteja vivo - que alhguma coisa muito estranha havia acontecido naquele fatídico dia. Nã é possível servir a Jesus como freira com o coração partido de paixão não por Cisto, mas pelo Angelo. Então  a madre superiora me propôs que ficasse ajudando na cozinha, na horta, na lida com as cabras, enfim, pau para toda obra.

- Lá, tenho comida, pousada ,roupa e um salário que é pouco ,msas de vez em quansdo eu ajudo minha família.

Quanto ao meu Angelo? - Jamais vou esquecê - lo e tenho certeza que ele jamais me deixaria plantada na Igreja, vestida de noiva esperando por ele no dia que seria o mais feliz de nossas vidas, se algo muito grave não tivesse acontecido.

E eu ainda haverei de descobrir. Haverei de encontrá-lo um dia, mesmo que já velhinho, com sequelas de alguma violência que sofreu, mas hei de entender tudo o que houve e dar a ele todo o meu amor.

Bia estava visivelmente emoionada , seus olhos lacrimejavam.

- Conta sempre comigo, Beatriz. - Fala mais. Desabafa. - Estou aqui para ouvir suas lamentações, tristezas, mas também sei de suas vitórias, suas conquistas, suas lutas, sua fé. - Você é uma gurreira.

- Somos fortes.  - De certa forma, me sinto viúva, de marido desaparecido. E você, viúva de marido morto e da pior forma: assassinado.  -  Precisamos unir forças, pedir a Deus muita coragem e disposição.

As duas se abraçam e choram juntas!

- Seu almpço está uma delícia, mas desculpe-me - não consigo comer bem quando estou saudosa, triste , deprimida, mas sem perder a esperança, claro..

- Entendo, Bia! - Você reparou que só belisquei? - diz Joaninha, ou Joia como é conhecida.






A visita de Beatriz à  Dona Joia 


No dia seguinte, por volta de 11h00 da manhã Jóia chega até a casa de Bia para levá-la até sua cas pcomo haviam combinado. A mãe de Bia a convidou para entrar, tomar um café e assim a jovem viúva o fez. Conversou um pouco, falou da situaçõ difícil em que o país se encontrava , ofereceu ajuda à familia de Bia, caso precisasse.  

- As coisas estão difíceis para todos , mas dou graçãs a Deus por meu falecido Lourenço. - Era tão novo ainda, para mim era o melhor homem do mundo, sempre carinhoso, amável.......( lágrimas começaram a molharem suas negras faces) 

- Fica assim não companheira amiga. - Deus proverá.  

Falaram  juntas Bia e sua mãe, abraçando a velha amiga de todas as horas. 

E assim, mais tarde , Beatriz  sencontra-se na casa de joia à mesa do almoço. Jpoia, embora tenha ficado com a fazenda que era do marido e mais alguns imóveis de aluguel em Candeias, cidade maior da região, não ostentava luxos. Não tinha empregada. Tinha apenas uma família de empregados mais antigos que cuidavam do gado leiteiro, da pequena criação de porcos e galinhas. E também, as vezes davam uma ajuda nos afazeres domésticos e limpeza da casa grande, a residência de Dona Joia. 

- E então Beatriz, como está sua vida? - Me conta! - Você está naquele convento a trabalho, a paseio ou quer mesmo ser freira? 

Passeio ?-  Riu a moça- estou lá a quase dois anos. Em princípio eu tinha a iluisão que seria freira sim, iria ser noiva de Jesus, de mais ninguém. - Mas acabei me convencendo que mesm com ANgelo desaparecido há muitos anos, eu ainda tenho esperança que esteja vivo - que alhguma coisa muito estranha havia acontecido naquele fatídico dia.  é possível servir a Jesus como freira com o coração partido de paixão não por Cisto, mas pelo AngeloEntão  a madre superiora me propôs que ficasse ajudando na cozinha, na horta, na lida com as cabras, enfim, pau para toda obra. 

- Lá, tenho comida, pousada ,roupa e um salário que é pouco ,msas de vez em quansdo eu ajudo minha família. 

Quanto ao meu Angelo? - Jamais vou esquecÊlo e tenho certeza que ele jamais me deixaria plantada na Igreja, vestida de noiva esperando por ele no dia que seria o mais feliz de nossas vidas, se algo muito grave não tivesse acontecido. 

E eu ainda haverei de descobrir. Haverei de encontrá-lo um dia, mesmo que já velhinho, com sequelas de alguma violência que sofreu, mas hei de entender tudo o que houve e dar a ele todo o meu amor. 

Bia estava visivelmente emocionada , seus olhos lacrimejavam. 

- Conta sempre comigo, Beatriz. - Fala mais. Desabafa. - Estou aqui para ouvir suas lamentações, tristezas, mas também sei de suas vitórias, suas conquistas, suas lutas, sua fé. - Você é uma guerreira. 

- Somos fortes.  - De certa forma, me sinto viúva, de marido desaparecido. E você, viúva de marido morto e da pior forma: assassinado.  -  Precisamos unir forças, pedir a Deus muita coragem e disposição. 

As duas se abraçam e choram juntas! 

- Seu almpço está uma delícia, mas desculpe-me - não consigo comer bem quando estou saudosa, triste , deprimida, mas sem perder a esperança, claro.. 

- Entendo, Bia! - Você reparou que só belisquei? - diz Joaninha, ou Joia como é conhecida. 

No dia seguinte, por volta de 11h00 da manhã Jóia chega até a casa de Bia para levá-la até sua cas pcomo haviam combinado. A mãe de Bia a convidou para entrar, tomar um café e assim a jovem viúva o fez. Conversou um pouco, falou da situaçõ difícil em que o país se encontrava , ofereceu ajuda à familia de Bia, caso precisasse.  

- As coisas estão difíceis para todos , mas dou graçãs a Deus por meu falecido Lourenço. - Era tão novo ainda, para mim era o melhor homem do mundo, sempre carinhoso, amável.......( lágrimas começaram a molharem suas negras faces) 

- Fica assim não companheira amiga. - Deus proverá.  

Falaram  juntas Bia e sua mãe, abraçando a velha amiga de todas as horas. 

E assim, mais tarde , Beatriz  sencontra-se na casa de joia à mesa do almoço. Jpoia, embora tenha ficado com a fazenda que era do marido e mais alguns imóveis de aluguel em Candeias, cidade maior da região, não ostentava luxos. Não tinha empregada. Tinha apenas uma família de empregados mais antigos que cuidavam do gado leiteiro, da pequena criação de porcos e galinhas. E também, as vezes davam uma ajuda nos afazeres domésticos e limpeza da casa grande, a residência de Dona Joia. 

- E então Beatriz, como está sua vida? - Me conta! - Você está naquele convento a trabalho, a paseio ou quer mesmo ser freira? 

Passeio ?-  Riu a moça- estou lá a quase dois anos. Em princípio eu tinha a iluisão que seria freira sim, iria ser noiva de Jesus, de mais ninguém. - Mas acabei me convencendo que mesm com ANgelo desaparecido há muitos anos, eu ainda tenho esperança que esteja vivo - que alhguma coisa muito estranha havia acontecido naquele fatídico dia.  é possível servir a Jesus como freira com o coração partido de paixão não por Cisto, mas pelo AngeloEntão  a madre superiora me propôs que ficasse ajudando na cozinha, na horta, na lida com as cabras, enfim, pau para toda obra. 

- Lá, tenho comida, pousada ,roupa e um salário que é pouco ,msas de vez em quansdo eu ajudo minha família. 

Quanto ao meu Angelo? - Jamais vou esquecÊlo e tenho certeza que ele jamais me deixaria plantada na Igreja, vestida de noiva esperando por ele no dia que seria o mais feliz de nossas vidas, se algo muito grave não tivesse acontecido. 

E eu ainda haverei de descobrir. Haverei de encontrá-lo um dia, mesmo que já velhinho, com sequelas de alguma violência que sofreu, mas hei de entender tudo o que houve e dar a ele todo o meu amor. 

Bia estava visivelmente emoionada , seus olhos lacrimejavam. 

- Conta sempre comigo, Beatriz. - Fala mais. Desabafa. - Estou aqui para ouvir suas lamentações, tristezas, mas também sei de suas vitórias, suas conquistas, suas lutas, sua fé. - Você é uma gurreira. 

- Somos fortes.  - De certa forma, me sinto viúva, de marido desaparecido. E você, viúva de marido morto e da pior forma: assassinado.  -  Precisamos unir forças, pedir a Deus muita coragem e disposição. 

As duas se abraçam e choram juntas! 

- Seu almoço está uma delícia, mas desculpe-me - não consigo comer bem quando estou saudosa, triste , deprimida, mas sem perder a esperança, claro.. 

- Entendo, Bia! - Você reparou que só belisquei? - diz Joaninha, ou Joia como é conhecida. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

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